Dentro de um sutil universo de desejo

          Aquele sussurro quase morto e excepcional aos ouvidos, acompanhado pelo som urbano abafado encostando na minha janela, foram a causa do ápice delirante no qual cheguei. Eu poderia estar em qualquer lugar, um lugar bom o suficiente e favorito, mas... não estava. 
      Se eu fechasse os olhos e parasse a respiração poderia ouvir meu coração batendo e os carros voando aos seus destinos... e de repente eu estava dançando para o tráfico, rodopiando, sentindo cada gota da chuva abusar de minha pele. Eu estava alta, estava viciada em tomar mais doses da minha companhia. Me despejaria, me rasgaria, derramaria até a última gota do que há de sangue em mim. 
       O que lábios tão bonitos fazem sozinhos? Meus dedos trêmulos e marcados tocaram cada linha fina, e partiram para dentro com uma paciência de um milhão de anos. Desenhei um V e comecei a dançar na frente da janela embaçada, pois começara a chover. Eu havia deixado os bonitos lábios de lado. 
       A tristeza tem nome. É quando mergulho em olhos bonitos e não posso devorá-los. É exatamente quando fecham o corpo em um casulo improvisado. Eu estava tão alta, mal sentia os meus pés no chão.  Mas estava presa nele. C’mon... dance... floating on me... 

Lips can show more than your heart, I want you to take the hell inside you out. Yesterday we were inside poetry; today is the day to wake up.

I was there, I saw him, I was there… I felt him.
[…]

Ágani L.
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