Restaurado Pelo Amor
No frio da madrugada, no silêncio do deserto de dores, ao
lume da fogueira aquentava, solitários de uma lua cheia, a
lembrar-se da velha aldeia.
Com os olhos perdidos no tempo, de vidas jogadas ao
vento, no assobiar de uma canção; ao redor do calor entoavam
melodia vinda do coração;
- O amor que vence barreiras, em qualquer situação, ele
cura profundas feridas de grande separação. De mãos dadas ao
redor do fogo cantamos, sinfonia a falar de perdão. Assim
vencemos o frio noturno, no aquentar dessa triste canção.
De repente um vulto passou, ao redor das brasas que
ardiam, era sua rosa querida, no bailar de grande alegria, com
seu sorriso solto no ar. Em um relance de olhar de um clímax
encantador, sobre uma sintonia perfeita; sua alma queimava de
amor.
Porem ela não o percebeu, quando ele começou acenar,
com seus olhos perdidos no tempo, não podia mais enxergar. A
praga roubou-lhe a visão, quando ela foi se encontrar, com seus
pais no deserto perdido, pra poder os abraçar.
Então uma rosa de ferro mostrou, forjada de uma bigorna a
sofrer, no calor das emoções a fazer, um penhor pra lembrar seu
amor. - Este penhor que lhe dou não tem o cheiro das rosas, nem
o perfume da flor em amarras de grande amor, mas resiste ao
tempo, no calor e no frio relento, tempestades no deserto em
ventos de dunas dos meus sentimentos, enlaces de meu grande
amor. Porem pode enferrujar, se guarita não mais encontrar,
quando a chuva serôdia cair, em minha alma no deserto a partir.
Quando ela a rosa sentiu, suas lágrimas nas pétalas caiu,
exalando seu perfume no ar, melodia dos seus lábios a cantar,
sua canção a falar de amor de um lindo jardim ao luar;
- No penhor do meu amor da rosa que lhe dei; fizeste um
jardim de flores, em tempos de amores. E em meio a moinhos da
vida, no verde do engenho a girar; saístes do quarto escuro, pra
meiga camponesa ajudar, bebendo do doce do engenho até meu
penhor lhe entregar.
- De sua maior riqueza, dividistes tamanha beleza, na
grandeza de teu coração. Por isso deves voltar, à aldeia e
anunciar, que de teu grande amor em poder, exalastes virtudes a
envolver, proteção para todo o teu ser, até imune da praga ficar.
Foi então que ele sentiu, em seu corpo um forte calor, ao
lembrar-se que o tempo passou deste que seus pés ali ele pisou,
em uma noite sem lua, no frio do deserto a surrar e agora era já
lua cheia, sem ele se contaminar.
No deslizar dos trilhos da vida, locomotiva se pôs a soar,
melodia alegre dos sinos, de um coração feliz a embarcar.
Ramalhete de flores colhia, de seu jardim na estação a entoar,
sua canção a falar de amor, de um povo distante a buscar;
doentes do deserto errantes, excluídos em tamanha dor, que
aguardavam a chegada da cura, através de um gesto de amor.
E pra cada vida que vinha, a ouvir sua triste canção, uma
flor vermelha ele tinha, em pétalas exalando no ar, o perfume de
sua rosa amada, na partida do trem a apitar.
A Rosa e o Penhor
Ao fechar as cortinas do teatro, no palco da vida, após
aquela apresentação, entra em cena o deslizar de duas rodas no
assoalho do cenário a reter-lhes a atenção. Era uma meiga
menina de musgos olhos profundos, da cor do fundo do lago a
encerrar o espetáculo.
Havia um silêncio profundo pairando diante do publico
quando ela começou a dizer, com sua voz bem suave a respeito
da rosa amada e o que ela poderia ser;
- Seu nome, disse ela: era religião, tão bela nos seus
dizeres, nos seus ritos de afazeres, mostrando caminhos
profundos de belas canções ao luar. Procurando sempre uma
maneira, em sua arte de analisar, os lapsos de uma humanidade
caída para do quarto escuro os tirar.
- Religiões de homens valentes, que sucumbem nos
desertos da vida, perdendo a razão envolvida, por paixões de
seus ideais. Louváveis gestos humanos se praticados sem seus
enganos, de suas fachadas de flores, sobre tantos jardins de
amores, sem dolo e sem interesse, um simples estender de
mãos, serias então preciosa ó doce religião.
- Porem tornastes tão cega, pelo ego de homens sem
trégua, travando em corações suas guerras; de orgulho e
aquisição, ganância, e execução, mostrando tua frieza por traz de
tanta beleza ó doce religião.
- Ó inescrupulosos corações religiosos; quem vos persuadiu
a hastear insígnias jactanciosas sob meros rótulos de ostentação,
se no perfume da rosa amada se encontra tamanha dádiva, no
vermelho carmesim que é o penhor de sua flor?
- Ó penhor derramado em graça de um céu tão cheio de
amor, entregue a todos os homens, semelhante a essa flor,
vermelha feito sangue a curar tamanha dor; tu és a maior
riqueza, inefável em grandeza, marcando nossos caminhos em
resgate de um destino, pro deserto a perecer.
- Em tua escarlata profunda, semeastes jardins a envolver,
nas gotas de sangue da cruz, uma cura pro pecado a vencer. Do
pecado podemos dizer; maldição para todo o ser, que só ama a
religião, se esquecendo de ter o penhor, sem a marca da
vermelha flor como prova de um grande amor, pra imune da
praga ficar.
- És terrível ó epidemia, que ataca em toda família, sem
fazer-te acepções, quer de credo raça ou religiões. Mas que levas
consigo o castigo, de uma morte tão triste e terrível, causando
tantas separações, em conflitos e até divisões. Fazendo do
mundo um vazio, em sentimentos de desdém tão frios, de vidas
sem seus jardins de flores, de homens sem seus amores, no
oculto profundo de um quarto escuro, dos vagões descarrilados
dos trilhos, e os corações tão distantes de Deus.
Então, no final da explanação a respeito de sua peça e
daquela encenação, ouviam-se murmúrios nos cantos,
queixumes de indignação, pessoas pateando ao fundo, em
protestos de insatisfação.
Havia também muito choro, lágrimas de reconciliação, de
vidas distantes dos lares, passados de magoas mordazes,
abandonos de uma estação, em faróis na escuridão. Olhares fitos
nos trilhos, sem saber qual caminho trilhar, religiosos de vários
jardins sem o penhor querer carregar.
E no fim da estação da vida, no calor das emoções
sentidas, de poucos aplausos confusos; a vírgula pleiteia suposta
interrogação, dos meigos olhos profundos a tomar sua decisão
em posse de uma flor colhida, no cenário do jardim florido a sair
da encenação, no fechar das cortinas do palco, de um conto de
amor; de uma meiga rosa querida e de seu tão amado penhor.
FIM

alex
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