CARLOS ALEXANDRE NASCIMENTO
A ROSA
E O
PENHOR
CAPÍTULOS
PREFÁCIO
O QUARTO ESCURO
NOS TRILHOS DO ABANDO
O FAROL
O PENHOR
NO ENGENHO DO PERDÃO
O ENCONTRO
RESTAURADO PELO AMOR
A ROSA E O PENHOR
PREFÁCIO
No contexto de um mundo hodierno, o palco da vida
apresenta sua versão dançante na procura de um amor em meio
a desertos de solidão. E no cenário de um quarto escuro; uma
meiga menina de musgos olhos profundos, entoa sua melodia no
assoalho de um teatro, a falar de seu amor em um mundo de
flores e faróis de varias cores, no revelar de um penhor.
Envolva-se neste romance e descubra no final de uma
estação; um vagão descarrilado dos trilhos nas saudades de um
coração ferido, em encontros de um passado esquecido, no final
de um grande amor a buscar.
O QUARTO ESCURO
Ao abrir as cortinas no teatro, do palco da vida, à vírgula
pleiteia suposta interrogação das mãos frias guardadas na prisão.
Sua mente perplexa pondera a meditar; sobre o quarto escuro
escondido no lar. Nas entrelinhas da escrita sobre a pauta da
vida, a pena se põe a deslizar, rompendo a vírgula que fica sobre
relutante anseio de expressão, expondo um afogueado
sentimento sublime, das angustias que sangra de um coração.
De paixão seus olhos se encheram, quando a viu
desabrochar; naquele jardim tão florido de pássaros a cantarolar.
Sob estagnadas pupilas em negros tons de prisões na mente, do
obscuro quarto fechado vigia as pálpebras o bailar da alegria em
meio ao frio noturno da solidão.
No estalar das labaredas ardentes ante o lume do fogo
acolhedor, seu vulto ela o percebeu. Em um pequeno relance de
olhares de um clímax encantador; sobre uma sintonia perfeita
suas almas ardiam de amor.
Aquela invasão inesperada jamais sentida em seu ser, de
temor em flagelos voltou, para sua mente em amarras e no
oculto quarto fechado suas lágrimas ele derramou.
- Se achegue, o aceno dizia; - Venha se aquentar, em
envolventes abraços amigos, ao redor da fogueira a dançar!
- Sou tão bruto de rústico linguajar, áspero em sentimento
eloquente, na sua ciranda dançante de clássicos sons para
amantes, não sei como elucidar.
- Não temas, apenas venha, ainda que em pedregulhos teu
verbo te sintas em diamantes lapidado serás. Quando em
prelúdio teu ser derramar sobre nossa ciranda dançante, das
mordaças suas ânsias liberto serás.
No compasso de sua mente a pensar, sua dança ele trança
no tear, como a lança de um tecelão a chamar sua atenção.
Então a aranha tece sua teia, em palavras a se prenderem no ar,
armando-lhe uma rede aos seus pés, para o quarto escuro a
levar.
- Quem és tu ó gentil melodia que em êxtase baila no ar,
trazendo suaves sintonias que de encanto me deixo levar?
- Sou relâmpago de lanças mordazes, inflamados dardos na
mente. Ora sou fogo que o gelo consome, ora voraz geleira
ilhada, consumida no fogo de tuas palavras, que desmancha em
águas amargas de um mar vazio perdido em solidão.
Nos trilhos do abandono
No bailar das estrelas dançantes ao redor da fogueira que
ardia, dos seus braços ela se perdeu, envolta pela melodia em
serena noite fria de vozes a cantarolar. E em meio a jardins tão
floridos varias rosas ela o viu apanhar, em vermelhas pétalas
macias aveludadas caídas ao chão, marcando o caminho com
flores mostrando a direção.
E sobre um jogo de amarelinhas no compasso do cirandar;
seus passos vacilam no prosseguir do céu ao inferno pro quarto
escuro ir. Em seu esconderijo secreto descoberto ele estava pra
ser, e de dentro do seu baú escondido pronto pra uma peça a
pregar; seu boneco de molas saltita aos sorrisos de sustos a dar.
-Espere não fuja de novo, disse ela retendo-lhe a mão, no
saltar de seu mundo obscuro para fora de seu vagão. No apitar
do trem que partia de sua mente a recordar; - sou criança sou
travesso, do apito tenho medo, mamãe está a me chamar, se ela
me pega aqui não poderemos mais brincar.
No deslizar dos trilhos da vida, locomotiva se pôs a soar,
melodia fúnebre dos sinos de sua mãe a enterrar. Caiu por entre
os vagões quando começou a procurar; aquela criança traquina,
que nos trilhos se pôs a chorar.
-Papai era o maquinista, gritou ele em sua fúria a lembrar,
do triste episodio terrível de nodoas no passado a deixar, vendo
a maquina apitando ao longe da estação abandonado a ficar.
Menino de rua cresceu até no orfanato chegar, e pro quarto
escuro correu pra um passado poder enterrar.
No ajuntar dos seus papiros ao findar o expediente do
dia, pra casa ela se recolheu. Aprofundando em suas questões de
um exaustivo quadro em conflitos, deliberando uma maneira em
sua arte de analisar; àquela disforia profunda, para do quarto
escuro o tirar.
Com os olhos carregados de sono, já em alta madrugada;
no vacilar um pequeno cochilo e um trem a apitar. E dentro da
locomotiva ela estava a viajar, quando de susto acordou sem
sono de tanto pensar e incomodada com tamanha questão ao
Pai das luzes foi rogar;
- Senhor, vem iluminar meus pensamentos, em minha alma
há um tão grande tormento de um mar revolto a banir-me em
solidão. O nevoeiro ofusca o meu barco, mas tu senhor és um
farol iluminado a mostrar-me em tua bonança a direção de um
porto em segurança.
- Em meio a conflitos de indiferença, do lar me distanciei e
em grande pranto na alma o seio materno eu deixei, na
esperança de um dia poder reconciliar e os braços paternos
novamente abraçar.
- E os trilhos me mostram o caminho de um menino sem
destino pedido em uma estação a mostrar-me a direção. Ó meu
senhor me dê forças para o lar poder chegar e aqueles trêmulos
braços abraçar, porque eles estiveram sempre abertos a me
esperar.
Então, de sono ela adormeceu aguardando um novo
amanhecer pro trem no passado voltar e em lágrimas de perdão
seus pais abraçar. Nos trilhos da vida ela passou a valorizar a
melhor coisa do mundo que é o aconchego de um lar, de quem
tem no final de uma estação um abraço amigo sempre pronto a
esperar.

alex
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