A primavera rompe o céu,
Fuzila as nuvens com mil balas de luz,
Levanta do Inverno o seu véu
E beija a terra que seduz.
Acalentado, regrado no equilíbrio,
O solo freme com a vida que brota,
O velho castanheiro sombrio
Vê despertar uma reluzente bolota.
Explosão de verde e de canto
De amores e de espanto,
É a própria vida que acorda
De um sonho que recorda.
O roxo vermelho fica
O gelo esfiasse na vertigem
Do seu sangue virgem
Funde-se a vagem com a vida
Num casamento que, de seguida,
Mostra o enlace na terra rica.
O velho som do triste acordeão
Foge para o seu eco
Asfixiando-se na força do botão
Que ao abrir-se, solta as cinzas desse eco.
Inverno ao vento,
Morte no relento
Do solitário sentimento
Chamado esquecimento.
Quem se lembra agora?
Chegou a Primavera!
A lágrima fria do Inverno chora
Agarrada à quimera
Das trevas eternas!
“Não chores, Inverno”_
Sorri-lhe a doce Primavera_
“O sol não é o Inferno”!
“Cala-te, sua megera,
Mataste-me com o teu calor”!
O Outono e o Verão tremem de pavor
Ao assistirem à luta entre a morte e a vida.
Porém, o Inverno lá esquece o rancor
E transparece uma face fingida,
Tingida pela hibernação lembrada:
“A vida só anda quando a morte está sentada”!
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