Planeta de concentração

 Exilaram-se nesse mundo para aprender a viver
Invasores os terráqueos explorando
E sua semente do mal assim disseminando
Germinando assim o declínio dessa prisão
Erros e crimes esperando condenação
Vieram e evoluíram como um virótico processo
Passando por barbárie e civilização
Continuam evoluindo na arte do regresso
 
Seu estado natural, insano, destrutivo e suicida
Nenhum Estado artificial encontrou uma saída
Pois a partir do fraco o forte tem sua conquista
Numa envolvente catarse sadomasoquista
Quando se deixam levar por suas ambições
Por ela podem matar, odiar e fingir amar
Ser volúvel em todas as condições
Depois sem piedade como o lixo desprezar
 
Rindo de seu próximo quando este cai na desgraça
Como é racional e superior a nossa raça
Gastando sua vida fútil contemplando a massiva destruição
Ainda tem a ousadia de se dizer santo e cristão
Espetacularizando nossa instintiva realidade
Pão e circo se tornam o ópio da sociedade
Império romano em pleno século XXI
Exemplares dessa espécie morrendo um a um
 
Igualdade é ilusória
E liberdade é outorgada
Revoluções nada revolucionaram
A vingança de justiça apelidaram
O mais forte é derrubado
Fortalecendo o mais fraco
É revertido o jogo
O leão também se torna lobo
 
Tanto é que a pobreza e a guerra nunca acabarão
Pois por todos nós estas são alimentadas, nutridas
As desgraças em vez de refletidas são assistidas
O método de queda é o mesmo de ascensão
Entre essa grande prisão, são construídas várias celas
Separadas por cor, raça, nação e pensamento
Enquanto o ideal é se abster de qualquer julgamento
Pois no final todos cairão por terra, choro e velas
 
Covardes nos mitos e nas telas se escondem
Esgotam todos os recursos assim como podem
Culpam até mesmo o ainda inexistente
Para não crescer e encarar o que se tem à frente
Apesar de tudo, há pessoas que aprenderam a lição
Sobreviventes do exílio cumpriram a expiação
Pessoas que deixaram aqui um legado de esperança
Que devem ser inspiração e parte de uma mudança
 
Muitos queremos descer dessa roda gigante
Em que só muda o tripulante
Repetindo sempre sua mesma trajetória
Escrevendo assim a nossa imutável história
Estamos fartos de teses e antíteses
Esperando por si só uma considerável síntese
Já basta o suicídio obrigatório
Assim demasiado humano contraditório

Manoel Flávio Kanisky
© Todos os direitos reservados