Themis acorrentada

 ’É meu’’ se disse na antiguidade
Contaminando a sociedade de selvagens
Que se civilizaram, trabalham e possuem
Esse novo costume se criou
Denominado propriedade
Já que é assim, cada um terá a sua
Deve ser por mérito da produção
Disse o dono grandão
Sugando e lucrando (trabalhando)
Descansando e fiscalizando
Enquanto se fomenta lá fora o ódio
A vontade de se sair da lama e subir ao pódio
 
Quem não pode ou nem quer apela, faz de tudo por dinheiro
Invade a propriedade alheia
Essas são pessoas sem valores
Que tiram do outro o que há de valor
Conquistado muitas vezes com suor
Por gente humilde e guerreira
Eles então devem ser punidos
Para que não o façam mais
Segundo Locke, são irracionais invasores
Contrariando as regras do Estado civil
É o problema do mundo antigo assolando o Brasil
Até os dias de hoje, onda já se viu?
 
Estado falho garante os privilégios
De alguns, tirando a venda da justiça
A qual condena muito e muitos poucos
Consequência da jovem democracia
Pune, e privilegia o punido
Mas não faz com que o problema seja resolvido
Mais polícia, menos política, fingir é mais cômodo
Se houvesse social digno, haveria mais segurança
Sem tiros, lágrimas, pancada, morte e omissões
Para atingir um verdadeiro efeito moral
Diferente do da bomba
Enquanto isso, os tribunais, as casas e as delegacias se igualam às prisões
 
Os assassinos ficam livres, mais rápido que a vítima
Porém os cidadãos de bem assistem e geram mais mal
Se não há justiça, partem logo para a vingança
Infelizmente esses conceitos se confundem
Num país de ninguém, onde quem tem espada e martelo é rei
Seja na mansão, no campo, na cidade ou na favela
Está quebrada a balança
O braço de Themis é substituído
Pelas mãos de Thanatos, nosso inspirador guia
Pois este  vive em caos, mas nada justifica a hipocrisia
Reclamando do bandido que não segue a lei
Que desrespeita a constituição
Mas no fundo defendendo a lei do talião
Hamurabi já morreu, e seu princípio permaneceu
A justiça evoluiu, mas o povo se atrasou
Pessoas não se adaptaram, ao mundo que globalizou
 
Enquanto houver analfabetos e ignorância
Cadeias terão abusos e superlotação
Enquanto houver essa justiça e essa defesa
A legítima vingança continuará sendo praticada
Descivilização deflagrada entre olhos por olhos e dentes
Pelas pessoas que sofreram pelos mesmos crápulas
Quando os crápulas forem punidos de modo geral
E os direitos humanos servirem ao honesto e ao corrompido
Quando a propriedade privada provier diretamente do trabalho
A nação se livrará da imposta justiça, sustentada pelo Estado falho
Chegando mais perto da utopia cada vez mais longe
Denominada justiça social

Manoel Flávio Kanisky
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