Sombra da madrugada

As rosas não abrem-se mais
Não mais sorriem ao meio-dia
Mas deitam-se toda noite
E cantam ao calar da madrugada.
Os intrépidos raios buscam o nada
Procuram o inexistente da vida.
E as rosas não sorriem mais
Mas falam ao calar da meia-noite
Soluçam frases de um vento galopante
Nas asas de um disco voador.
É o sonho dos vampiros românticos
Mistuado a fumaça da folha verde.
O sangue que corre nas veias do unicórnio
Não correu nas varises da esperança.
As rosas não abrem-se mais
Mas sorriem ao fumacear da meia-noite.
A solidão então deita-se em paz
Descansa os fuzis engatilhados.
O céu azul mergulhado no bom vinho
Tinto e suave das memórias sombrias.
O último cigarro da erva morimbunda.
Um aquilão saltou soberbo
Das profundezas da sombra projetada
Um horizonte ao fim da janela.
Um mundo nas placas de uma tela.
Qem não soltou os cães ferozes
Pelos labirintos dos ouvidos atentos.
O silêncio dos sábios mortos.
Flasa sabedoria de um ansião fardado
Fardado de preto no caixão da vida.
As rosas não abriram-se mais
Enquanto os olhos tristes da vida
Refletirem a sombra brilhante da morte.