Que eu não fique insensível à dor
e ela não se torne rotina,
colada a minha retina
temendo que eu olhe aquém.
Não me faça parte integrante
de fatos humilhantes e banais,
realidade que brilha e dança
e se lança onipotente demais
sem ao menos ouvir nossa voz,
sem interpretar o silêncio
de quem já não tem mais voz,
cansados de gritar:Clemência!
Que eu manifeste, sem medo,
no púlpito, todo o enredo
da tragédia que nunca termina,
cujo tema sórdido e real
de uma gente alheia , ilesa,
fala todo dia, sobre minha mesa,
ensanguentado num jornal.
Manchetes a preencher os dias,
protagonizam a dor que contracena
sozinha, numa casa obscena,
dialogando com a solidão...
Que além de orar eu seja ação
agindo no que eu puder mudar...
Que o que escrevo não seja em vão,
e as lágrimas choradas trabalhem a favor
aliviando corações inconsoláveis,
amenizando sofrimentos insuportáveis,
fortalecendo a coragem para continuar.
_Carmen Lúcia_
Licença
Sob licença creative commons
Você pode distribuir este poema, desde que:
- Atribua créditos ao seu autor
- Não crie obras derivadas dele