Visão

Se o cansaço dos olhos não escurece a visão,
As nuvens não estariam aí, para chover,
Como as lágrimas de quem um dia já sofreu,
Mas que de braços abertos deixou sem sonhos o Orfeu.

Se existir resíduos de tristeza nas gotas de alegria,
Pudera as cores do universo serem de infinito sentido.
Assim, dentro de uma ideia passageira que não desfaz,
Entrego-me lentamente ao insaciável desejo de viver.

Mesmo assim reluto os profundos olhares,
E consigo sucumbir às entranhas das rugas, sob meus olhos.
Envelheço-me na suculenta saliva que me traz de volta ao início.

Consigo então renascer como uma borboleta imaginária.
Vejo vida, harmonia e vontade de estender aquela mão
Que resolveu fechar em punho ao difundir o meu ideal.

Estocolmo, Suécia

Carl Dahre
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