Assentado lamentoso ao sol ardente e escaldante
refletindo há largos passos de um ser a forma errante
marchando lentamente sem assomar nenhuma pressa
ao som de um vazio que em mim já se regressa
 
Um jovem andarilho com seus trapos encapados
pisando em terra árida sobre pés já magoados
 
Tão novo e tão menino como pode estar assim?
Não me tome como exemplo e não seja infeliz
 
Meu senhor, não lhe conheço, mas já sei como é viver
meu coração não me responde e entendo o que é sofrer
Como pode um sentimento abater tão forte alguém?
Me carregar, me dominar e não visando o meu bem
 
Lhe entrego esta flor como prova de libertação
Continuo a caminhada abandonando essa paixão
Só assim para esquecer aquele ser de bela forma
seu sorriso é minha tristeza carregado em seu aroma
 
Então me digas meu rapaz, o nome de sua amada
Para que agora em diante permaneça bem guardada
 
Catarina é seu nome e o noivado se rompeu
como a flor que lhe entrego, o anel me devolveu
Só lhe pergunto o que é obvio, o que fará com esta flor?
Sei que terminamos, mas aí está o meu amor.
 
Não se aflija jovem homem compreendo a importância
seu caso ante o meu parece coisas de infância
Esta flor que tu me entregas plantarei em meu jardim
Te livrando da amargura e tomando-a pra mim.
 
Meu bom senhor eu lhe agradeço, e te ofereço condolências
Sua reputação já me arrebata e me engana as aparências
Me surpreendo ao saber que tens um amor envelhecido
Então me diga o nome dela assim como fez comigo.
 
Não lhe digo, não lhe digo, apenas aceito esta flor.
 
Aquele jovem andarilho se retirou deixando a flor
e com ela em meu jardim ficou um nome e seu amor
Catarina, Catarina, mais uma mágoa que venho a plantar
Tais que até então não se comparam ao meu pesar
 
A estrada que se estende ao horizonte infinito
é mais bela quando vejo um coração arrependido
No vento cálido que escoa entre os céus azuis
De longe eu avisto um certo alguém sob um capuz
 
A figura se aproxima mas não vejo o seu rosto
O tecido negro que o cobre esconde o que é proposto
 
Rapaz desconhecido, o que fazes vestido assim,
Por acaso lhe faltam roupas ou o luto quer emitir?
 
Meu senhor quem eu encontro, já lhe poupo do disforme
Meu rosto é deformado e a vergonha é enorme
A beleza me é ausente mas não me sinto injustiçado
Sinto pena, sinto ódio por ter sido humilhado
 
Lhe entrego esta flor mostrando o quanto eu a perdoo
Sei que não é bela mas servirá como um adorno
Me arrependo por amar quem mais me desprezou
Tão linda, formosa, algo assim ninguém encontra,
um pedaço do que quero, mas que de mim se apartou
 
Então me digas meu rapaz, o nome da beldade
Que aos seus lábios me parece apresentar grande maldade
 
Leila é seu nome que a mim não correspondeu
como a flor que lhe entrego ela disse que sou eu
Desbotado e sem cor eu ando a vagar
esperando que alguém um dia há de me encontrar
 
Guardarei em meu jardim na suma esperança
De que na moça que me dissera haja uma mudança
A beleza é passageira e nem de longe é um alicerce
Dizia assim a minha amada que hoje já não me aquece
 
A grandeza de seus atos mostram sua capacidade
se entregar e sofrer por alguém passou a ser uma bondade
Me prostro em gratidão e em respeito pelo que sente
Então me diga o nome dela para que guarde em minha mente
 
Não lhe digo, não lhe digo, apenas aceito esta flor.
 
Aquele homem encapuzado deixou comigo sua vexação
De uma flor tão funesta manou apenas uma questão
Leila, Leila, sua beleza me convém porém lhe falta humildade
por que fazes disso uma fonte de ultrajes?
 
Aos poucos a tarde falece em seus tons avermelhados
o vento se acalma e o calor se faz gelado
Na marcante imagem de um borrão escuro no limiar
Caminha mais uma figura esperando eu ajudar
 
Se difere no olhar, se difere nos motivos
suas lágrimas me entristecem e me fazem comovido
 
Não se abata meu rapaz, seu choro no eco estala
Sei que a dor é forte mas ainda posso aplacá-la.
 
Meu senhor a quem eu venho, me desfazendo no desgosto
minha alma se envenena a cada tempo que me é posto
Nada posso lhe pedir pois desconfio que consiga
Acalmar tão facilmente um coração em agonia
 
Não trago flores por saber que em seu jardim não há espaço
Para um sentimento tão ruim que já lhe causa um cansaço
Os traços belos de minha amada me fazem refletir
Como pode tal pessoa terminar num triste fim?
 
Então me digas meu rapaz, o nome da perfeição
Sem flores dificulta mas eu vejo sua aflição
 
Aurora era seu nome e no seu leito eu chorei
Como a flor que não possuo em seu velório eu me ausentei
Não suportava a imagem de minha amada à sete palmos
Agora entende o sentimento que desdou os nossos laços?
 
Talvez esteja certo, não consigo aplacar
Essa dor que tu carregas pode até matar
Meu amor já foi plantado como todas as outras flores
mas o jardim que construí me destrói em tantas dores
 
Me vejo nos teus olhos meu triste bom rapaz
Estou sozinho na estrada por ter sido incapaz
De acordar toda manhã e ver que estou envelhecido
Jazido em minha cama sabendo que estou punido
 
A sentença é bem clara e sem direito a perdão
minha custódia é essa estrada e minha fiança a solidão
O meu crime se resume ao amor inabalável
se me ouves meu amor, perdoe o pobre miserável
 
Então me digas meu senhor, o nome de seu delito
quem sabe agora entre nós se rompa o atrito
 
Não lhe digo, não lhe digo, apenas aceito o meu fim.