Não vai ter copa, Fuleco?!

Não vai ter copa, Fuleco?!

Não vai ter copa, Fuleco?!
A Charles Miller, Mário Filho, F. Luís Pereira e Ronaldo O. Santos
“O Brasil vai ganhar de 4 a 1 da Itália” – E.G.Médici, horas antes da final da copa 70.
“Diga que o presidente quer falar com o Rei” – Médici para Pelé
“Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos...” Nelson Rodrigues
“O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia”. Millôr Fernandes
“I'll buy the shampoo to use in my caspi hair, I not carecation!” Joel Santana
 
O País do Futebol… ópio do povo?
Atol em águas turvas, sonhos de cronópios...
Estorvo de idéias... Gritos de gooooooool!
Eis a Cabeça de Medéia, não sei por onde vou!
Um Tatu-bola se entoca numa toca abandonada.
Ouço o eco de sons de predadores,
A cola que une pedaços não liga o Tudo ao Nada
E do osso se faz um caneco aos vencedores!
O Padrão Fifa é um ideal estético?
O Patrão rifa um cabedal morfético,
E “Arena” é onde sangraram os gladiadores!
 
Cadê o Fuleco? Tolypeutes trincictus...
Vuvuzela? Caxirola? O Apito do mestre da bateria pára,
Decidirá o breque no Samba, Pênalti!
Gritavas: Ganhar o jogo! – o pé não te ouvirá! Um campeonato invicto!...
Dará de canela, a bola rolará. O rito do burgomestre se esvaziara!
Pois o Povo queria mais que ópio, mais que televisão nova!
Já o sabiam os Titãs, não queria só comida,
Nem tampouco só diversão e arte! Queria mais na vida,
Queria outro reboco, mais que ilusão ou partes derruídas
Duma cova sem nome! E o dinheiro sumindo entre cadeiras,
Como papel picado no desfraldar de miríades de bandeiras!

Poema que faz uma crítica aos gastos públicos para realização da copa do mundo. Estruturalmente composto de duas estrofes de 11 versos (um jogo de futebol são onze contra onze), na primeira estrofe os versos só se iniciam por vogais maiúsculas, na segunda estrofe só se iniciam por consoante maiúscula. Na primeira estrofe só se usa o presente do indicativo e o pretérito perfeito, na segunda estrofe são outros tempos verbais. Temos assim, na linguagem do poema a metáfora de um jogo e o resultado é 1x1. Um gol na primeira estrofe e um de pênalti na segunda...Rimas em eco e aliterações.