Fantomas


FANTOMAS
 
Só, pedante, qual cocheiro sem voz e cego,
Ao ar impuro e profano de um azul sendal,
Dia após dia, a vagar absorto como um rio de egos,
Um homem que a fuligem cinza-lhe por total.
 
Um sonhador afeito aos olhos de um grego
Monumento tristonho agregado ao latim,
Um pierrô que fere a lira que eu mesmo nego,
Mais um tolo vai no rio até o pôr do sol ao fim.
 
Velas ardendo nos castiçais entre nuvens,
Jambos tirados ao cabo dum sonho irreal
De um frio espectro, um fantasma tonto no areal.
 
Bebo agora o vinho ácido de verdes uvas,
Outros tolos vão aos rios para lá afundarem,
São como reis, como vodus a se espetarem.

poema do livro Florilégio de Alfarrábio (2003).

São Paulo