TEMPOS ESCOLARES -(Mais lembranças da infancia)- Conto -


    Tempos Escolares-(Mais lembranças da infância) (Conto)
 
                       Aos seis anos e meio fui matriculado na única escola que existia em minha pequena cidade. Começava ali minha aventura nas letras. Precoce para a época, pois eram necessários sete anos completos para tal empreitada, o rótulo de “prodígio” favoreceu minha incursão. Não tive dificuldades para dominar o alfabeto e os professores ficaram encantados com meu desempenho nos dias escolares que se seguiam. A Cartilha “Caminho Suave”, um marco do ensino brasileiro era deliciosa para o aprendizado, tanto que ainda hoje me lembro de suas lições. Os amigos do primeiro ano escolar também estão na lembrança, não todos é verdade, mesmo porque a prodigalidade não existe há algum tempo junto com a memória que já foi boa. O tempo passa para todos ou todos passam com o tempo, não sei bem qual é a alternativa correta, mas foram e são bons todos os tempos de minha existência. 


                        A escola era bem ampla em suas instalações propiciando aos alunos todas as condições de um bom aprendizado. Os professores daquela época eram tratados como autoridades dado o respeito que se teciam por eles, pois faziam por merecer, sendo verdadeiros educadores, tanto que algumas vezes os alunos mais rebeldes eram repreendidos da maneira adequada, incluindo-se aí algumas palmadas. Nenhum pai ou responsável achava ruim, pelo contrário, ainda agradeciam os mestres e na maioria dos casos a reprimenda era concluída no lar. O mundo mudou, nós mudamos, os direitos humanos estão aí para preservar o “delinquente”, juvenil ou adulto. Também discordo da violência, mas alguns safanões bem aplicados não prejudica a formação do caráter da pessoa. Aos dez anos e meio ingressei na escola que havia sido construída para atender a demanda de alunos que crescera com a imigração de novas famílias.


                      Nessa nova fase escolar, minhas lembranças estão marcadas pelas datas comemorativas que eram muito importantes, sendo todas lembradas e festejadas conforme o protocolo. Havia desfiles e apresentação de bandas (fanfarras, como chamavam) que percorriam as ruas centrais sob os olhares extasiados dos moradores.  Algumas comemorações porem restringia-se aos alunos durante o período de aulas e foi numa dessas que aconteceu o episódio que passo a narrar. Era véspera de sete de Setembro e os alunos do período noturno foram levados à quadra de esportes para as homenagens aos heróis da independência. Após a execução do Hino Nacional e o discurso inicial do Diretor, a palavra foi passada para o professor mais pitoresco que lecionou naquela escola até então. O professor Lindolfo, carinhosamente apelidado de “Champra” era muito querido por quase todos os alunos pelo seu jeito brincalhão, de estatura média, sua voz meio nasalar e a incrível capacidade para contar anedotas (piadas), porem o que mais chamava a atenção em sua compleição física era a calvície parcial que parecia não incomodá-lo, mas nessa ocasião acabou se tornando um fato engraçado.


                      Não havia cabelos em sua região central da cabeça, porem ele deixava uma mecha lateral maior do lado direito e a penteava para sobre a calvície, o que amenizava a falta de fios naquela região e ficava uma “gracinha” (hehe). De posse de um texto o irreverente mestre começou sua explanação sob o silencio quase “sepulcral” dos presentes. Após alguns minutos uma brisa fresca, talvez desgarrada do mês anterior (Agosto sempre venta) veio protagonizar as cenas hilárias que se desenrolariam a seguir. Em principio a brisa foi muita benvinda, pois amenizava o calor da noite tropical que antecedia o período chuvoso da primavera, mas quando ela se tornou uma ventarola e atingiu a gloriosa mecha de fios meio grisalhos do educador, lançando-os ao seu local de origem, provocou alguns murmurinhos na plateia. O “Champra” não se abateu, com a destra fez com que o “chumaço” de pelos retornasse à “base lunar” esboçando um pequeno sorriso durante o gesto. 


                      Foi o suficiente para desconcentrar a massa escolar ali presente, mas o diretor, com voz poderosa acalmou a todos e exigiu disciplina, sendo atendido imediatamente, pois era austero e intimidador. O único problema é que a ventarola não obedeceu ao distinto líder e mais uma vez levou a estimada “mecha” de encontro às suas raízes. Silencio absoluto. O mestre prosseguiu a leitura, mas agora ele mesmo já lia com um sorriso nos lábios, pois o gesto foi repetido varias vezes pela insistência da “brisa vingadora”.  Isso foi descontraindo a galera que não se aguentou e a gargalhada tomou conta da comemoração, envolvendo inclusive o sisudo diretor. O professor “Champra”aposentou-se e agora não tem mais a famosa “mecha”, mas continua carismático como sempre e quando vê a gente abre seu inconfundível sorriso, que me faz recordar aqueles lindos tempos escolares...


 
Pedro Martins
02/02/2014

 

Relembrar o passado é muito gostoso, pois as lembranças nos traz ensinamentos, assim foi minha infância e adolescência, pelo menos a parte boa, (hehe)...
O período escolar foi a melhor fase de minha vida, tenho certeza,então às vezes me recordo de alguns fatos e os transporto para o papel, talvez seja uma forma de "matar" a saudade daquilo que nunca mais vai acontecer novamente...

PItangueiras, "matando" saudades dos tempos escolares...