a definição de um amigo-poeta, poeta-amigo:
"As andorinhas são pássaros pequenos.
Nem parecem ter pés, feitas pra voar longe demais.
E fazem o verão ficar mais perto.
Voarão para sempre na parede da minha memória, de louça, subindo num céu rosa. A sala da minha avó era rosa.
Desabam do céu quando vai chover. O abismo é para cima.
Avisam que tudo muda: estações, o clima, a hora.
Nem parecem existir até se ver uma. Enganam nossos olhos, como as atrizes, voando num céu falso, vindo de um abismo sem fundo, fazendo um verão por estarem lá.
As andorinhas são minha metáfora pra você. Leve, densa, pulsante, viva que é. Risco rápido no céu diante dos olhos, orgulhosa de existir, saudosa de tantos lugares, corajosa em tantas partidas. Vai num rompante. Fica no céu rosa da casa da minha avó, existindo pra sempre na memória.
Pode se confiar nas andorinhas. Que virão no verão. Roma, Paris, num mirante a beira mar, sob o céu cheio de nuvens nos arrabaldes de algum lugar. Andorinhas, arrabaldes, céus desabando, casas de avó, delicadezas que não se acabam."
Miguel Marcarian
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