A rua da minha avó
 
É hoje uma velha decrépita,
 
Esqueceu sua história,
 
Perdeu a memória, a identidade,
 
É apenas uma via de acesso na cidade.
 
 
Segue em uma só direção,
 
No mesmo sentido,
 
Em meio a uma infernal agitação,
 
Não escuta sequer  o seu barulho,
 
Nem liga para o monte de entulhos
 
Atirados em seu corpo.
 
 
Aquela  rua envelheceu.
 
Quando por ela passo
 
Dói-me todo fracasso
 
Do seu ar doente
 
Se esvaindo em vida,
 
Decadente senilidade
 
Sem história,
 
Sem identidade,
 
 Enquanto eu,
 
Lembro todos os seus detalhes:
 
As carroças em vai e vem,
 
Os trilhos do trem.
 
 As pequenas casas coloridas,
 
O barro vermelho, as árvores,
 
Os canteiros
 
As enxurradas nos meses de inverno,
 
Os vendedores de pão, os verdureiros.
 
 
Essa rua é uma velha senil,
 
Sem história, sem passado,
 
Uma velha feia  sem lembranças,
 
Vida que ruiu:
 
Só  eu continuei sua criança.

Nair Damasceno
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