QUASE VOEI-(recordações de minha infancia) - (Conto) -


Quase voei- (recordações da minha infância)- (Conto)


 


 


                                                                 No ano de 1966, em meados da primavera aconteceram esses fatos que passo aos leitores interessados como as doces recordações de minha infância. Éramos três irmãos e uma irmã sendo que eu era o terceiro da hierarquia, posteriormente viria o caçula, ou a “rapa” do tacho como se costuma dizer. Meus irmãos mais velhos já frequentavam a escola e eu ainda iria esperar mais dois verões para ingressar no fascinante mundo das letras, mas aos cinco anos já era um garotinho “fofo” (não gordo/sem bullyng) e muito esperto. A casa onde morávamos tinha um vasto quintal onde reinava uma mangueira (arvore que produz mangas) quase centenária e debaixo de sua sombra aconteciam as mais diversas brincadeiras. O Bá e o Gaíco, meus irmãos mais velhos eram dois moleques peraltas e viviam aprontando e levando surras do meu pai, parece até que eles gostavam de apanhar. Os tempos eram difíceis e os brinquedos eram improvisados até porque a diversidade era infinitamente inferior à que vemos nos dias de hoje. Numa ocasião fomos presenteados com bexigas e ficamos todos eufóricos. Meus irmãos brincavam com as suas enquanto eu abracei a minha e fiquei sentado sob a frondosa mangueira. Bexiga é muito frágil e pum...pum... duas se foram.


                                                                 O Gaíco, que lembrava um galho seco, por isso o apelido era o mais “sacana” e aproximou-se com “segundas intenções”- ô Fio, era assim que me chamava, depois passou para Nenê, vamo brincá com a sua bexiga, no que eu me abracei mais ainda à “borrachenta vermelha” e resmunguei, não não e não, mas ele era persuasivo e aplicou o 171, o primeiro em minha pequena experiência de vida:- então vamo lavá (lavar) ela pra você guardar. Não, não e não respondi com cara amarrada, mas ele insistiu e mostrou onde ela estava suja, me convencendo a proceder a limpeza e o Bá para ajudar entrou correndo em casa e voltou com um pedaço de Bom Bril (naquele tempo já existia), aqui Fio, ó, vai fica limpinha. Não teve jeito tive que concordar. Levaram a “gorduchenta” para o tanque que ficava ali no quintal, próximo à “casinha de necessidades”, molharam a “bichona” e buumm. Difícil foi controlar meu choro e por consequência levaram mais uma surra do “Velho”.


                                                                  Semanas depois, o Bá chegou da escola empolgado, pois conhecera a história de um tal de Ícaro que saiu voando de uma prisão depois de fabricar as próprias asas. Mal sabia eu que seria cobaia de uma nova experiência dos dois “pilantras”. Duas varetas de bambu largas, mais umas cinquenta de bambu fino, um monte de penas de galinhas (que pena das galinhas, hehe) e meio quilo de cola de farinha de trigo (fabricação caseira, hehehe) pronto, minhas asas estavam prontas, minhas? Meu pai estava trabalhando e minha mãe estava muito ocupada com as tarefas domésticas para presenciar meu primeiro voo. Até que as asas ficaram bacanas e os “malandros” mais uma vez me convenceram a participar de suas artimanhas, tanto que também me empolguei, já pensaram? O primeiro menino a voar com asas de fabricação caseira nos céus brasileiros. Se desse certo seríamos mais famosos que o próprio Santos Dumont. A “casinha de necessidades” foi a plataforma de lançamento do primeiro “guri voador” do Brasil, eu.


                                                                 Eles amarraram as asas em minhas costas e em meus pequenos braços (nem sei onde acharam tanta corda) passaram as cordas pela minha barriga quase me sufocando, mas eu já estava no clima, tudo pela ciência, quero virar passarinho acho que eu pensava naquele momento e com um pequeno impulso do Gaíco eu fui- Bate as asas Fio... poft... não deu tempo, foi pena pra todo lado. Ralei o nariz, a boca, os cotovelos e os joelhos e desandei a chorar tão alto que minha mãe saiu desesperada para ver o estava ocorrendo. Quando ela chegou eu já estava dentro do tanque e meus irmãos lavavam meus ferimentos (ou tentavam me afogar para eu parar de chorar, ainda tenho dúvidas) e ao ver a cena ela mesma antecipou a surra que meu pai completaria ao chegar do trabalho. Levei uma semana para me recuperar dos ferimentos, mas os “pilantras” demoraram um pouco mais que isso para conseguir usar suas “derrieres”(nádegas). Tempos que não voltam, mas recordar é sempre uma delicia...


 


Pedro Martins


29/01/2014


                   

Mais uma vez trago aos leitores interessados pequenos pedaços de minha deliciosa infância...

Pitangueiras, recordando...

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