UM CONTO CRETINO DO NATAL

Desde cedo aprendi a detestar o Natal. Graças a ele sofri os maiores percalços, humilhações, fui vitima de  bullyng e o Natal sempre figurou como meu maior agressor. Tratava-se de um moleque safado e sem escrúpulos  morador na casa vizinha um pouco mais velho que eu, robusto e sádico, contrario  a eu, magrelo e mais ou menos civilizado. Eu, evidentemente, era seu saco de pancadas concordasse ou não com ele, até no jogo de bafo e seus pais sempre fizeram vistas grossas aos atos do energúmeno, para meu azar. Como brincávamos na rua toda vez que eu apanhava, as vezes duas vezes por dia do valentão de plantão  que nunca quis encarar alguém do tamanho dele e aparecia em casa meio arroxeado dizia a mãe que tropeçara, levara a pior ao brincar de bola, inventava desculpas, temeroso de que vizinhos entrassem em conflito por causa da gente. Chorava escondido  e intimamente amaldiçoava o Natal, desejoso de mudar da rua e nunca mais encarar esse individuo.
Um dia a boa noticia:- A gente mudou de cidade, fiquei feliz, tinha lá meus onze anos e ao despedir-me dos vizinhos, caminhão carregado da mudança pobre,  pronta para partir rumo ao desconhecido, cara a cara com o brutamontes desejei-lhe felicidades, dei-lhe um abraço cordial, disse “um dia a gente se vê por ai” e, sem mais aviso, com a cara mais inocente que pude estampar apliquei-lhe  o chute mais violento que pude criar  nas partes baixas. O grandão rolou de dor, caiu emborcado gemendo, as mãos agarradas aos testículos, chorando feite neném. Sai vazado, subi na carroceria do Ford e gritei para o motorista:
- Toca em frente que atrás vem gente.
Os anos voaram, o trauma ficou, esse gigante encarcerado nos cafundós da mente que de vez em quando aflora as grades. Durante a juventude toda vez que ouvia menção ao Natal, coisas assim como:- O Natal está chegando, o Natal vem ai, o Natal está próximo, chegou o Natal, etc.,  sentia um estremecimento. Nunca me saiu da cabeça o magnifico chute a ‘Van Damme” que lhe desferi e restou a duvida  se teve sequelas posteriores. Decididamente o Natal foi meu maior inimigo.
Por suprema ironia esse, o Natal, nasceu verdadeiramente no dia  vinte e cinco de dezembro, dai o seu nome, costume antigo de pais darem nome aos filhos.
O grande problema é que ele, não o sendo,  me pegou para Cristo.

 
 

BUENO
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