Sou uma gota do nada,
Do oceano, da chuva, terra molhada
Dos pés cansados a beira da estrada
Sou a gota do desperdício, precipício, do todo e do resquício
Da doçura, do azedo, o amargo e a própria amargura
Do desprezo, da esperança e desespero
Sou a gota do paraíso, dos que crêem, do eterno,
Do céu e inferno
Sou a gota da certeza, do questionável, do que não há explicação,
Da perdição e da pureza
Sou a gota do agora, do antes e depois, do passado tão presente,
Do futuro tão ausente
Gota da verdade, da sinceridade e de coisa de quem mente,
Da palavra dita, com arrependimento ou satisfação,
Bendita ou maldita, suave ou cuspida
Sou a gota do verbo intransitivo, sem complemento, nada me completa
Dispenso os adjuntos, sou intransigente
Sou a gota da água fria que te escorre, que te arrepia,
Te trás cada pelo do corpo, que te inebria
Sou uma gota da luz, dos perdidos, da escuridão que propus
Da sutileza, do erro, do pecado dos errantes e do exagero
Sou a gota do nada que te faz tudo, que rasga a vida e destrói o mundo
Que te arregaça a boca, que te roubas as palavras e no fim és mudo.
 
Autor: André Xavier (Homenagem a obra do Artista Plástico Marcos Vasconcellos)
 

André Xavier
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