Quando rasguei a carne,
Foi então que nasci
Das aguas, do escuro,
Foi de lá que saí.
Causei muita dor,
Mas também o amor
Agora estava ali
 
Ali também estavam
A mentira e a verdade.
Havia a preocupação
Havia a felicidade,
A doçura do açúcar,
O salgado do sal,
Ali estavam,
O bem e o mal.
 
Em um dos cantos,
Estava parado ali o diabo,
No outro o anjo de manto.
Meu pai sempre orava,
A mãe estava em pranto.
Entre dores e palmas
Os demais disputavam
A minha pobre alma.
 
Talvez fosse cedo,
Havia segredos
Sobre meu viver
Será que viveria,
O que eu seria,
Após crescer
 
O diabo me mostrava
flores em meu caminho,
O anjo me mostrava
As flores e os espinhos
Que seria árdua a caminhada,
O diabo sempre sorria
E me mostrava alegria
Naquela outra estrada.
 
O anjo era a realidade
Mostrava-me o sofrimento,
Mas também o conhecimento
Para que pudesse decernir
O que era felicidade.
 
Hora fui pra esquerda,
Hora fui pra direita,
Hora a gente erra,
Hora a gente ajeita,
Assim fui vivendo,
Assim fui crescendo
Até a estrada estreita.
 
Espero que minha vida,
Não tenha sido um mero viver
E ter deixado algo de útil
Para alguém aprender
Que somos disputados,
Bem antes do nascer.
 
O que espero também
É ter feito mais o bem
Durante minha vida.
Ainda tenho esperança
Que pese na balança,
Toda a pobreza vivida.