Calaram seu canto

Todos os dias, sorrateiro, ele chegava

E, no mais alto muro, logo ia se instalar

Queria dividir a alegria com todos

Era assim que eu me punha a pensar...

 

E cantando ali ele ficava

Conseguindo a vida da gente alegrar

E fazia com o seu doce canto

A gente acordado sonhar...

 

Mas um homem sem sensibilidade

Quis um dia sem seu canto ficar

Homem ruim sem nenhuma ilusão

Com um tiro certeiro fez seu canto calar...

 

Criatura infeliz e sem sensibilidade

Que o belo da vida não sabe admirar

Perde o que há de doce nesse mundo

Que é um canto do sabiá!

Na casa dos meus pais, todos os dias, pousava um sabiá no muro a cantar... e ali ficava um grande tempo! Meu pai, muito doente, acamado, ficava feliz e aguardava com ansiedade a hora em que ele costumava chegar. Até que um vizinho, incomodado, resolveu calar o seu canto! Dias depois, meu pai também se calou!... Foi ouvir harpas no céu!

Santos Dumont, 24 de junho de 2013