Despedida


Desejaria paz,

 mas encontra dificuldade

 em encontrar palavras.

 Justamente as tais palavras

 que em abundância

 geraram o conflito.

 Parece ser mais fácil

 agredir do que pedir

 ou receber perdão.

 Em silêncio,

 sente constrangimento

 e vergonha de si.

 As idealizações

 de amor eterno

 não sobrevivem

 ao cotidiano?

 É possível ser feliz

 sem alimentar algumas

 ilusões e sonhos?

 Acuado, sente

 uma certa estupidez

 por alimentar

 o próprio orgulho.

 Culpa-se, autoflagela-se,

 para depois ironizar-se.

 Não sendo suficiente,

 embebeda-se com o sarcasmo.

 Uma vitória do orgulho

 que se fez tamanha derrota.

 Ver a presença desejada

 ser engolida

 pela abertura da porta.

 Em vez do doce olhar,

 a visão dos ombros delicados.

 Logo estará a caminhar pela rua.

 Talvez pesarosa levando

 a sua solidão.

 E então,

 a solidão que ficou

 observará a que foi embora,

 almejará pedir-lhe para ficar,

 mas encontrará no orgulho,

 o feitor que sufoca-lhe

 as palavras na garganta.