TRISTE MANHÃ-(conto)-

TRISTE MANHÃ-(conto)-

Triste Manhã

 

                         Uma brisa fresca trazia os primeiros sinais da chegada do
Outono. Preparei-me para a costumeira caminhada matinal com a estranha sensação
de perda. O que seria isso, pensei, deve ser pela má noite de sono que tive esta
noite. Sentia-me cansado e com pensamentos estranhos como se eu não fosse eu,
dá para entender isso? Estava tudo muito confuso em minha cabeça e as imagens
que povoavam meu cérebro eram de angustia e solidão, mesmo assim, vesti-me
adequadamente, pois não sou mais um garoto e ganhei a rua para o benéfico
exercício. O Gigante de Fogo ainda não acordara e isso favoreceria minhas
passadas pelas vielas e avenidas do pequenino rincão.

                        Fiz os tradicionais alongamentos e já ofegante
pelo esforço quase desisti da empreitada, mas era questão de honra e não seriam
algumas dores que fariam com que abandonasse tão salutar caminhada. Puxei todo
o ar que meus pulmões conseguiram aspirar e fui. Seriam mais ou menos quarenta
minutos, tempo que, dependendo do ritmo é possível andar por quase todo o
perímetro urbano. Gosto de caminhar pelos locais mais antigos da cidade, e
nesse horário raramente há outras pessoas com as mesmas “intenções” então é
possível observar e recordar. Não sou muito saudosista, mas gosto de relembrar
os momentos da juventude, principalmente quando passo por um local que desperta
nossas emoções do passado.

                      Nesse dia porem, não
conseguia ordenar os pensamentos e a angustia permanecia de forma teimosa e
opressiva dando-me a sensação de estar mais pesado que o habitual-(não sou
gordo, sic), mesmo assim continuei a necessária jornada que todos os terapeutas
nos recomendam. Segui por um trajeto já conhecido até alcançar a linha férrea
nas proximidades da estação onde tantas vezes embarquei na “centopeia de ferro”
com destino à Capital para passeios ou negócios. Quando passo por ali minha
diversão é caminhar sobre o trilho para testar o equilíbrio enquanto me recordo
das aventuras da adolescência, dos “amassos noturnos” no pátio de embarque sob
as tênues luzes existentes no local, bons tempos. Não consegui andar muitos
metros-(sobre o trilho) naquela manhã, pois a inquietação do pensamento sobre
algo que ainda não sabia o que era interferia diretamente no domínio de minha
condução motora, então resolvi caminhar ao largo do caminho férreo para evitar
um possível acidente.

                         Mais à frente, cerca de cem metros da
aconchegante estação, defronte a uma residência familiar, avistei algumas
pessoas, umas dez, mais ou menos, em conversas que a distancia me pareciam de
preocupações com alguém, e havia uma ambulância parada com as portas abertas
provavelmente aguardando que essa pessoa fosse conduzida ao hospital. Apesar de
conhecer a maioria daquelas pessoas, fiz apenas um breve aceno àquelas que
perceberam minha passagem e continuei em busca do objetivo traçado minutos
antes quando deixei minha residência. Segui pelos caminhos pré-estabelecidos em
minha mente, tentando limpá-la dos pensamentos angustiantes que haviam ocupado
o espaço que uso para coisas mais agradáveis, mas estava difícil, pois não
pareciam minhas as ideias que a povoavam, então comecei a conversar com Deus
pedindo explicações a respeito porque sou um sujeito bastante positivo e não
aceito negatividades em minha vida sem que haja motivos e mesmo assim ainda vou
questionar sempre, porque acredito que tudo no Universo é sintonia e somos nós
que temos que determinar o teor das vibrações que podem ou não “invadir” nosso
cérebro.

                         Foram quase trinta e
cinco minutos de caminhada angustiante e quando já retornava para casa fui
interpelado por um conhecido que me daria a desagradável noticia que iria
trazer a resposta para minhas angustias, um amigo muito querido havia cometido
suicídio naquela madrugada. Rapidamente entendi o motivo da opressão que tomava
conta dos meus pensamentos, com certeza, em meu subconsciente eu já sabia do
acontecido e agora, apenas recebia o comunicado oficial. Imediatamente elevei o
pensamento a Deus e pedi-lhe que amparasse meu amigo em sua infeliz jornada de
retorno ao plano espiritual, enquanto observava os primeiros raios solares
daquela triste manhã...  

 

Pedro
Martins

09/05/2013                 

Essa é uma história verdadeira e aconteceu a duas semanas atrás. Infelizmente o suicídio ainda é uma porta escura e enganosa para a tentativa de fuga dessa vida, que se "os incautos" praticantes soubessem dos tormentos que se seguem após o ato, certamente não o cometeriam, mas não vamos discutir aqui o porque das causas dessa pratica cada vez mais comum em nossa sociedade materialista, o fato é que está acontecendo agora em quaisquer lugares de nosso planeta, infelizmente... só posso lamentar e orar pelas almas que se vão dessa forma...

Pitangueiras, ap