À atmosfera pútrida de meu aposento

Revelo, enfim, a verdade.

Tiro o óculos como se tirasse as roupas,

E fico nu em corpo e alma.

 

Tenho ódio de mim como se eu fosse inimigo.

E nunca senti amor: Desde a infância até agora.

 

Em porre, olho à noite o céu sujo.

Eu, que, embora fraco, tenho me feito forte.

Eu, que me tenho chamado gênio, Deus,

e em verdade sou reles e vil.

Tento compreender o incompreensível em mim

E só sinto mais nojo e frustração e ódio.

E, talvez eu não saiba o que é o amor

Por tê-lo recusado quando ele vendeu-se a mim.

 

Quantos deuses como eu não estão hoje na sarjeta?

Eu, tão maquiavelicamente criminoso que mereceria a prisão perpétua.

Eu, que sou tido como homossexual em meio à diversas lindas mulheres.

Eu, que sou rídiculo e absurdo com minhas teses.

Eu, que me faço intelectual sendo ignaro

E que sou um verme sem o sê-lo...

 

Minto sobre minha vida para suportá-la.

Doses quotidianas de mentiras que formam a vida perfeita.

E que fiz eu em todos esses vinte e um anos?

Fui parasita?

Fui tão humano que tornei-me uma aberração?

Fui tão tolo que matei meus sentimentos.

(Sem querê-lo e sem sabê-lo).

Sobrevivi ao parto! Ó infortúnio!

Ó Pai que eu odeio! Ó Mãe que não amo!

Sou uma massa de frenesi movida à dinheiro,

E o tempo ainda não moldou meu caráter.

 

Queria abraçar o mundo à maneira de explodí-lo!

Meus sonhos são distorções de verdadeiros sonhos,

Sinto-me imundo mesmo estando limpo;

Mesmo tendo acabado de sair de um banho frio

Que não apaga o incêndio em minh'alma.

 

Quantas inquisições não me teriam queimado e requeimado

Por minhas inúmeras heresias?

Por ser descrente, ateu em minha normalidade?

E quanto ódio triste guardo em mim!

O homem que escreve ódio agora

Poderá estar triste e mórbido em dez minutos;

E não será e nunca foi digno do dom da escrita!

 

E nem se fosse bruto e burro seria mais feliz!

Porque já o sou e não me sinto!

Em nada consigo ser normal:

Sou um demente tratado à choques elétricos

E, em suma, nunca estive doente.

Meu psiquismo complexo e estúpido e leproso

Nunca me levou a qualquer lugar

Senão à lama fétida dum chiqueiro

Onde sou um subalterno de todos os porcos!

 

Quantas formigas não esmaguei,

Quando eu é quem deveria ser esmagado?

Quantas vezes não me concedi superior

Sendo tão somente uma mera pústula!?

 

Ah! Como aprecio a devassidão

Sem ter a coragem para realizá-la.

Sou mesquinho, pobre em espírito e só faço vexames

Quando tento ser um semideus que não nasci para ser!

 

Abriu-se-me a mim a porta da cidadela da morte,

E eu, covarde, não entrei.

Abomino as vulgívagas, mas, delicio-me com seus corpos.

E eis-me mentindo novamente,

Pois que nunca entreguei-me à libertinagem.

 

Leio, convulsiva e obsessivamente em busca dum conhecimento

Que nunca virei a ter.

Mentir tornou-se a minha verdade

E as minhas verdades têm veneno.

 

Não tive e não tenho paciência

Para dividir o nada que sei com quem de fato precisa.

Viver por mim e para mim: Como poderei ser nobre?

Eu mereço ser abandonado e morrer à míngua

Como um alcóolatra que outrora concedeu-se um gênio

E que terminou como um mendigo!

 

E eu, vil, incréu, tolo, absurdo, louco,

Digo ser forte para bebidas quando não aguento nada,

Quando nada sei de importante e concreto...

Eu, que já enganei e também fui enganado por amigos

E depois os cumprimentei com a cara limpa,

Tinha a consciência tranquila;

Mas, como poderia eu ainda chamá-los de amigos?

 

Eu, que tenho cobrado juros abusivos aos empréstimos que faço,

E nunca tenho como pagar minhas dívidas;

Como poderei exigir moral?

Como posso ousar classificar-me como Deus,

Se sou ínfimo no sentido máximo desta palavra?

 

Não mereço escrever nada e nem ser ouvido.

Minhas culpas e lamúrias, o Diabo que as pegue!

Nesse dia calorento no qual sinto frio,

Grito em meio ao nada tudo de ruim que está reprimido

E, todos os seres do mundo ouvem-me e condenam-me...

 

Esgueirando-me por uma parcela de piedade,

Perdi e fui traído.

(Já não confio em ninguém, nem em mim!).

Nada me consola, nem o sono.

Ousei ser grande, caí e feri-me;

Mas ninguém teve a pena de amparar-me.

 

Como poderia uma mulher amar um monstro como eu?

Eu, um falso, o pior dos ratos?

Eu, que simbolizo o que se pode chamar de fracasso?

Sou tão podre que nada me merece,

Pois não devo pungir os outros

Com a imagem grotesca de mim e desta infame literatura!

 

Eu, que não tenho amor próprio, como poderei amar alguém!?

Comparar-me a um sanguessuga é um elogio,

Pois o segundo tem a sua utilidade na ordem natural!...

 

Comecei a fumar por pura vileza

E agora contamino o mundo com meu câncer...

 

Eu, que matei meu pai com minha canalhice.

Eu, que estou matando minha mãe com minha insensatez.

Eu, que já matei o que era bom em mim

E que tenho tentado matar os outros.

Eu, que declarei guerra à sociedade

Sem ter forças para combatê-la.

Eu, que sou tão frágil, enfermo e dependente de remédios

Como poderia ser gênio ou Deus!?!

 

Ah! Thiago, decerto o teu pior ainda não se mostrou!

Sou um demônio incapaz de mudar...

 

Eu, que tentei ser Talis Dinergal sem ter sua nobreza.

Eu, que fui Bob Satyrus Torazine apesar de detestar sua maneira vulgar, pornográfica e imunda.

Eu, que ainda tentei ser Diego Dimas Barbetta para tentar encontrar a calma e a paz, também falhei.

E eu falhei em tudo: Em mim e nos outros.

Queria encontrar algo de bom em mim e não há;

Somente uma máscara bonita, mas, falsa.

Menosprezei a todos. e eles eram melhores.

Não mereço qualquer ciência, pois sou incapaz de aprendê-las.

Sou tudo de vil num único ser.

Tenho tentado ser todos, e sou ninguém...

 

Escrito em 20/12/2006.