Somos filhos de uma jaqueira
Muito crescida e frondosa
Nascidas na mesma árvore
Na fazenda Santa Rosa
 
No barranco do riacho
Na mesma terra, brotadas
Recebendo o mesmo sol
E ali fomos criadas
 
Eu sou uma jaca feia
Pequena e sem aparência
Minha irmã é saudável
E de muita consistência
 
As pessoas admiram
O seu tamanho e beleza
E para mim ninguém olha
Sinto ciúmes e tristeza
 
Porque tanta diferença
Deu-nos a mãe natureza?!
Viemos do mesmo galho
Somos irmãs, com certeza!
 
As vezes eu fico triste
Por ter nascido assim
Acho que foi injustiça
Minha tristeza é sem fim
 
Um dia uma bela moça
A fazenda visitou
Passou onde estávamos
E nem para mim olhou
 
E disse para o seu pai:
‘Olhe que bela jaca!’
Derrube ela pra mim
Traga também uma faca
 
A fruta é tão bonita!
Meu apetite aguçou
Comeu dela o quanto quis
E o resto ali deixou
 
Eu lá em cima prazenteira
Por ser sem tipo escapei
Vivi minha vida inteira
E assim me conformei
 
Ser belo e não ser poupado
E pelo meio cortado
Seus restos abandonados
Digo a Deus: ’Muito obrigado’!

MARIA AGLAIDE NEVES
© Todos os direitos reservados