RENATA ROTHSTEIN: POESIA & REBELIÃO

Há muito, desde as barricadas de 1.848, em Paris, a poesia ganhou, gradativamente, uma condição de concretitude que a afastou dos salões, abandonando o status de marionete verbal.

Baudelaire, Rimbaud, Lautréamont, Pound, Maiakovski, Garcia-Lorca, Gullar, Piva, entre outros, realizaram a travessia migratória, nem sempre, ou quase nunca, pacífica e tranquila.

A situação que se definiu por inserir a poesia na vanguarda dos pensamentos humano e revolucionário, encontrou sempre, no conservadorismo da crítica, um inimigo encarniçado, pois na corte, pensar avante sempre se chocou contra os esquemas tradicionais. Basta ver o escãndalo que Breton & asseclas, e Ginsberg, Kerouac e seu bando, causaram nos combalidos ambientes poéticos e artísticos, da frança e Eua de então (sinceramente, se fosse hoje, não sei o que encontrariam, na certa todos amarrados a mísseis , e detonados em cima das guerrilhas no Chade e no Afganistão).

É nesta ótica que observamos a portentosa revolução poética de Renata Rothstein.

O Verbo Renatiano é um objeto incandescente e feroz cravado no solo da linguagem, sedenta de renovação, deste início de século.

As facilidades que a Poesia Marginal trouxe do surrealismo beat, adjudicado à visualidade sonora do verso das vanguardas tropicais, via semiótica, objeto, práxis, concreta, desenvolveram uma poética de apelo popular (por incrível que pareça), claramente em busca da aclamação sertaneja e pagodeira, que um punhado de rockeiros arrependidos, justifica como herança do tropicalismo, aprendido e surrupiado dos livrinhos escolares.

Não estranhamente, Caê & Gil ficaram de cabelos brancos, de tanto tê-los em pé.

Com tamanha corja de imbecis se perguntando o porquê da mulher (estranha, não), e enaltecendo-lhe o entre-coxas, como pretender que a poesia diga algo sério, se os "poetas" estão mais preocupados em caminhar nos seus pobres e podres sonhos.

Neste ambiente de casa de massagem, nenhuma dialética é eficaz.

Renata veio para por fim aos domínios dos amorzinhos e beijinhos pueris e fúteis, predominantes na poesia que se dizia moderna.

Ela urra poderosas incursões pelos abismos da alma, observa com olhos trovejantes às misérias do dia-a-dia, longe da futilidade e da indigência de erotismo de parque de diversões do interior das breguices poetizadas, Renata propõe e realiza uma acareação entre poeta e sua alma, entre poesia e universalidade espiritual, transmutando o verbo de mero jogo e passatempo, para uma realidade sônica e visionária nunca precedida, mostrando na memorabilia furiosa do combate cósmico, uma Babel cuja linguagem divina é descoberta nos jardins do ser, e que apenas ela descobriu ao tirar do verso o elemento concreto, que escondido durante séculos pelas equações de ritmo e imagem, agora é normativo como poderio da visualidade sonora estampada da alma na ponta do arpão de fogo do verso dançado nas aliterações portentosas.

Tenho certeza, que nunca antes, uma Poeta como Renata houve.

E nem haverá.
 

ERICO ALVIM
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