O Perseguidor De Sonhos

 Era ainda um jovem inocente

Quando cessou de sonhar.

No sono, nada via, nada sentia

E na realidade já não tinha objetivos;

Até que decidiu livrar-se da maldição do não-sonhar.

 

E partiu para uma jornada

Para seus sonhos recuperar.

Começou com a jovial esperança

De um obstinado perseguidor

Que nada tinha a perder e tudo a ganhar.

 

Perguntou a tantos sábios e anciões:

"Onde posso encontrar os sonhos?"

Mas ninguém iluminava as suas trevas,

Ninguém lhe dava o doce fruto

Que o faria esquecer o gosto do nada.

 

Mas ele não esmoreceu.

Tinha agora o desejo

De concretizar um consumo conspícuo

Nos sonhos por ele perdidos,

Para que novamente pudesse descrever a sensação

Do saber o eterno e etéreo sonhar...

 

Caminhou e viu muitas flores,

Pessoas e coisas: Belezas mil.

Porém, não estava feliz porque não encontrava

A cura para o seu vazio

E por isso, foi um pássaro sem se desviar da sua rota.

 

Conheceu pântanos, planícies, florestas e desertos

Enquanto caminhava com a companhia do dourado Febo

Ou da prateada e nebulosa lua.

Não se poderia dizer que não havia poesia em sua causa,

Mas por ela, dias foram incendiados

E os anos congelados

Nos ecos do nada que perfuma as coisas...

 

Eis que tocado pelo tempo

Sem cessar sua busca, o jovem envelheceu

E apenas adquirira muito saber sobre fatos inúteis:

Línguas, religiões, filosofias...

Foi então que ouviu um escolar dizendo à multidão

Que a rainha de todos os sonhos jazia no sul longínquo

Onde até os anjos se perdiam

E onde a realidade se quebrava

Nas ilusões heráldicas de uma abóbada de estrelas.

 

Seu coração, então foi uma flor da primavera

E com o novo encanto desta fantasia,

O heroísmo da viagem inundou sua alma

E como um relâmpago ele partiu

Sendo observado pelas fadas:

As estrelas arcanas e rutilantes do eterno.

 

E reviu ele a escuridão benta...

E também a luminescência da aurora reveladora.

Viu inclusive a fauna e a flora evanescentes

Enquanto perseguia a música do sul mítico,

Que embora próximo, nunca chegava...

 

Deparando-se com o monolito de seus questionamentos

O agora velho andarilho nem percebeu a epopéia

Em que se tornou a sua busca pelo sonhar.

Enquanto isso, a vida entoava um réquiem com sua lira

E erguia as barreiras de um clímax sem fim.

 

Preservado pelas auras do tempo

O velho andarilho foi rei, mas queria sonhos.

A noturna alcatéia uivava guiando seu caminho

E o silêncio da esperança

Era no velho uma chama fraca, mas constante...

 

Pelo milênio dos milênios

Esta saga de tantas riquezas e acontecimentos

Foi lembrada pelo sol, pela lua e pelo infinito

Como um poema decorado,

Porque crestado simbolicamente nos céus.

 

Contudo, o vento negro começou a soprar

E a dama das sombras redentoras

Chegou com o plenilúnio para levar o velho em sua miragem.

Ele perseguiu um sonho impossível todo o tempo

E não mais conseguiu sonhar em seu sono,

Embora tivesse sonhado todo o tempo em sua jornada.