FIDELIDADE DAS AVES (caso verídico)

 
Alguém parou para pensar
Como os pássaros são amigos
Quanto faz bem seu cantar
E pode a tristeza afastar
 
O homem é cruel e desalmado
Por capricho leva à ave a prisão
Em cativeiro a afasta dos seus
Que lamenta e chora a separação
 
Às vezes pequenos filhotes
Por seus pais choram de saudades
São inocentes, passam fome e frio
Não devemos praticar esta maldade
 
Quem comete este ato vil
Não refletiu quanto mal causava
Ambiciosamente só queria
Mostrar que aos mais fracos dominava
 
Um dia prendi um belo sabiá
Para mantê-lo ao meu lado
E orgulhosa ouvir seu cantar
O privando de voar no prado
 
Certo dia ouvi de uma mangueira
De pássaros pequeninos seus tristes piados
Eram seus filhotes logo percebi
Que na orfandade morriam abandonados
 
Compreendi a dor que eles sentiam
Cheia de remorsos soltei o sabiá
Foi tão belo e sublime aquele encontro
Quando a vi seus filhos afagar
 
A mãe voou às pressas para socorrer
Aquelas pequenas aves indefesas
Colhia ao bico o fruto que encontrava
Com gesto de amor e de nobreza
 
Vinha até seus filhos com destreza
Trazer o pão para seus sustentos
Seus olhos brilhavam de ternura
Ao saciar da fome seus rebentos
 
Que quadro comovente acontecia
Ao vê-la feliz em sua obrigação
Cumprindo o seu dever maternal
Pungia de vergonha meu cruel coração
 
Em seguida volveu o seu olhar
A mim que ali perto estava
Com uma graça que nunca vi igual
Enquanto eu, lágrimas derramava.
 
De remorsos eu me comovia
Ao ver tanto mal que os causei
E perdão a todas eu pedia
Pelo tempo que os separei
 
A mãe fez morada em meu quintal
E não mais dali se afastou
Coloco frutas e água ao seu alcance
E ouço o seu cantar cheio de amor
 
Tornara-se minha companheira
Vem perto de mim a cantar agradecida
Aprendi a assobiar seu canto
E somos inseparáveis amigas
 
Até seus filhos que já cresceram
Não receiam chegar perto de mim
Assobio e eles se aproximam
Vivendo a passear no meu jardim
 
Quando vou pela manhã ao terreiro
Os vejo a cantar descontraídos
Não voam e nem se afugentam
Toda família vive aqui comigo.

MARIA AGLAIDE NEVES
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