Sombra rapinante a sobrevoar plantações e cemitérios.

Mau agouro, prenúncio de tempestades... Corvo!

Pousas sutil em meu ombro, penetrando meu espírito feito estorvo

Levando-o à dimensões sem luz, locais lúgubres e funéreos...

 

Voas como uma sombra materializada e teu negror eu absorvo.

Fico como um espantalho rasgado por ti em teus intuitos sérios

De guiar para o além túmulo todos os fantasmas diáfanos, etéreos

Que pairam perdidos no mundo como a fumaça do cigarro que eu sorvo...

 

Nesta noite sem estrelas, sem nuvens, sem lua, sem nada,

Nasce em mim o horror de não estar cego, mas não ver a estrada

A qual devo percorrer para chegar, enfim, à suprema e infinita luz...

 

E o corvo a espreitar, grasne satisfeito e voa diante de meus olhos, como guia...

Sem saber para onde ir, penso estar indo à luz, mas a verdade sombria

É que já morri; e a ave, ao outro mundo, ávida, me conduz...