POETA OU VAGABUNDO?

POETA OU VAGABUNDO?

 Perambulando pelas incertezas dentro de toda confusão que é minha cabeça, demorei um bom tempo para definir de fato o que eu queria ser da vida. Entre decisões tomadas e desistências acumuladas abracei a educação, não por julgar necessário ou interessante ensinar alguma matéria específica, mas pela responsabilidade em disseminar consciência preparatória para a vida nas pessoas. Após tomar a decisão mergulhei mais e mais em assuntos que tivessem ligação com esta realidade, e desencadeando leituras famintas tomei nota das preocupações por parte dos teoristas em definir qual forma de pensamento deve ser levada em conta na formação cidadã de cada indivíduo.
 
A princípio me sustentou saber que há de fato teorias epistemológicas que dão um seguimento menos preconceituoso comparadando àquelas educativas tradicionais, onde propõem levarmos em conta não só o desenvolvimento cognitivo (correspondente ao conhecimento) como também habilidades físico-motoras, afetivas e sociais. E como tudo fica muito mais bonito e bem explicado no papel e sou contestador por natureza me incomodava a sensação de que faltava algo a ser acrescentado, e ao refletir muito a respeito usando de minha filosofia barata percebi onde estava o erro. Toda carreira almejada envolve dinheiro e esse fator é o mais levado em conta por todos, pois há jogadores de futebol, cantores e até tatuadores que não possuem o conhecimento exigido pela sociedade burguesa, mas fazem uma grana preta, e são muito respeitados em todos os meios!
 
- MENTIRAAA, descobriu sozinho?
 
Claro que não caros leitores, esta foi só a introdução para começarmos a nossa análise. Já observaram que a verdade é que não importa quem você seja, contanto que ganhe dinheiro com o que faz? Sim, disso todo mundo sabe e muito bem, e seria muita hipocrisia minha dizer que estou liberto da ganância, afinal ninguém está. E dinheiro ajuda, previne e garante.
 
Garante?
 
- “É pô, dinheiro facilita tudo né!”
 
Como assim?...
 
- Como assim o quê rapaz? Acorda! Moral, respeito e gatas!
 
Ah tá pode crer, você está se referindo a autoconfiança, não é?
 
- Éhh mais ou menos isso aí, só sei que a gente se sente imbatível com a carteira cheia!
 
Estou meio perdido no meio de campo ao tentar evidenciar esta ideia, pois minhas metas também tem se baseado desde o começo em atingir o ápice de minha própria estabilidade financeira, e estou quebrando a cabeça para conseguir explicar aonde quero chegar… Ah sim, a busca pela autoestima! Refarei a pergunta: Já observaram que a verdade é que não importa de que você goste, contanto que as pessoas achem você um máximo? Não? Vai me dizer que em suas decisões não há influencias de terceiros? Pois em minha vida há de todos os lados, principalmente de meus familiares, colegas de trabalho e da faculdade, que insistem em dizer que eu devo ter “foco” (palavra bonita para tentarem me convencer de que preciso me enquadrar a todo custo).
 
Devo fazer concurso, mesmo que eu venha a ser um frustrado pelo resto da vida preenchendo processos e arquivando documentos; Ser um exemplo de aluno na faculdade, apesar de enxergar tudo como uma grande besteira e não ver necessidade para aplicar nada d'aquilo em minha vida. Tudo para ganhar um tapinha nas costas e ouvir repetidas vezes o quanto todos tem orgulho de mim e me admiram. Mas eu acredito que buscar ser admirado é entregar-se ao vício pela aceitação geral, e sabemos que é impossível chamar a atenção de todos sem ser caluniado ou virar chacota de alguns. Podemos já imaginar o porquê da frustração desse povo! Minha família me vê como um desajustado, meus professores como preguiçoso, e meus amigos como um louco! Mas seria eu realmente uma vítima, um teimoso, rebelde...? Não, eu sou um escritor, não estão vendo!
 
- Mas você nem é famoso!
 
Ah é verdade, me falta reconhecimento! E assim sou recriminado por não ser igual aos outros e por buscar meu próprio talento como inúmeras pessoas que também são hiperativas, que possuem dificuldades em se concentrarem, que cantam com os olhos fechados e batem a mão na mesa buscando intensamente cobrir a chatice que é nossas vidas. Até nos diagnosticam com transtornos dos mais diversos e nos dão remédios para que assim consigamos ter “foco”. Como se nossas cabeças não fossem boas o bastante. E assim nossa criatividade é vetada e jogada descarga abaixo. Eu mesmo já realizei feitos realmente impressionantes e que deixariam alguns aqui de queixo caído, nem a todos é claro, pois não fiquei rico com nenhum deles (mas não convém citá-los aqui, afinal o texto não intenta elevar a autoestima do escritor, mas trazer a nossa consciência detalhes importantes que estamos deixando de lado). Tenho que chegar ao absurdo de me matar para aprender a fazer de tudo para assim não me tacharem como improdutivo, e por fim carregar doenças em função do stress acumulado por ser obrigado a fazer tudo aquilo que não gosto. Seria realmente significativo todo o esforço?
 
Um amigo educador me comentou indignado sobre a fala de Steve Jobs para os formandos da faculdade de Stanford, pois ali ele desmistificou toda a crença de que você precisa seguir as regras para ser alguém (pois o próprio não chegou a concluir a faculdade), e acrescentou que o que vale na vida é fazer o que você ama, e nossa recompensa virá com o tempo. No caso dele a recompensa foi de bom agrado ao mundo, sem imaginarem que ele se referia a recompensa por desenvolver em sua vida estímulos pessoais e prazerosos. Deixamos de lado nossos sonhos para dar lugar primeiramente à ambição, pois mais vale ser alguém reconhecido e admirado do que se satisfazer com aquilo que cada um de nós ama fazer de verdade. Poderia ficar aqui batendo na mesma tecla e fazer deste texto um livro, pois tenho argumentos e mais argumentos para tentar convencê-los de que estou bem sendo este louco que todos me dizem ser e que sou bom naquilo que gosto de fazer, mas agora percebo que de fato eu sou, e ter certeza disto é o que mais me importa.
 
"Poeta ou vagabundo, não sei mais como definir esta forma de viver, mas certeza do que fazer da vida é o que menos tenho me preocupado a ter."