A visita

 

                               Fui visitar um amigo que há muito tempo não
via. A gente nem se falava mais, culpa dos afazeres do cotidiano. Eu me casei,
ele não, era solteiro convicto, tinha seus relacionamentos, alguns até
duradouros, mas nunca se prendeu a alguém, morava sozinho em um pequeno
apartamento nas proximidades de seu local de trabalho. Estava sempre sorrindo,
nunca conheci uma pessoa que conseguisse ficar em sua companhia por trinta
segundos sem sorrir, ele era o próprio bom humor. Alem de bom companheiro era
um profissional corretíssimo no trabalho, sempre recebendo esfuziantes elogios
de seus superiores que o convidavam constantemente para viagens e festas nos
finais de semana, desfrutando assim de sua agradável presença. Respeitava a
todos sem distinção, não possuía quaisquer tipos de preconceitos e auxiliava
muitas pessoas sem fazer propaganda disso.

                               Depois
que me casei, precisei mudar-me de cidade, aí vieram os filhos e meu cotidiano alterou-se
drasticamente, só tinha tempo para a família, então a gente foi se afastando.
Algumas vezes, nesses vinte e cinco anos que ficamos sem nos ver, trocamos
poucas palavras pelo telefone, tipo, como você está? E o trabalho, como vai?
Nunca mais tivemos uma conversa de fato, eram apenas perguntas e respostas
curtas e objetivas, afinal uma ligação custa dinheiro e minha condição
financeira não era das melhores então tinha que economizar em tudo. Puxa vida, como o
tempo passa depressa, nem acredito que já completei meio século nessa
existência e fazendo algumas reflexões sobre esse período reconheço em mim
algumas qualidades e muitos defeitos que preciso corrigir, mas que
possivelmente não conseguirei até o término dessa jornada.

                               Não
fico me lamentando sobre isso, procuro seguir meu caminho dia a dia, minuto a
minuto, vivendo o presente, fazendo planos somente em pensamentos, pois não sei
e nenhum de nós sabe o tempo que nos resta para retornar à outra dimensão da
vida. Da janela do ônibus a paisagem que me era oferecida representava uma
viagem ao passado, lugares que há muito tempo não passava e que agora por
motivo inadiável me traziam alegres recordações. Foram pouco mais de duas horas
até chegar ao destino. Quando desembarquei, não contive a emoção, porque apesar
das mudanças que ocorreram nas construções e no panorama geral, foi ali que
passei minha infância e adolescência e as imagens daqueles tempos vieram em flashback. Passada
a emoção segui meu roteiro, pois teria que voltar no mesmo dia por motivo de
trabalho e aquela visita talvez fosse a última oportunidade de rever Paulo.

                                Eu
soubera por acaso onde ele estava e não poderia deixar de vê-lo, afinal éramos muito
unidos e mesmo sem nos falarmos nesses anos todos sempre pensava nele e imaginava
o dia de nosso reencontro. Não esperava que fosse nessas condições, mas
felizmente iria acontecer e minha ansiedade aumentava enquanto caminhava em
direção ao local onde ele se encontrava. Acelerei os passos e também os
batimentos cardíacos, foram mais três quarteirões de caminhada até avistar
finalmente ou infelizmente o prédio do IML...

 

Pedro Martins

06/06/2012        

Muitas vezes deixamos de visitar amigos ou parentes por motivos que não se justificam e depois que eles se vão ficamos a nos lamentar...

Pitangueiras, refletindo sobre minhas falhas...

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