Não acredite em vida,
depois da morte.
Só há a morte
lá do outro lado.
Viva a vida onde há vida.
Não haverá lembranças e nem sinais,
apenas uma noite contínua e silenciosa.
A alma acaba.
Finda com a vida,
pois a ela é inerente.
O mundo dos mortos
não é como o nosso.
Não é nada,
apenas o que sobrou,
enquanto persiste o eco
daquilo
que eventualmente foi.
Não poderiam caber
todos
no mesmo Paraíso,
por isso já foi tudo criado
como é,
sem nenhuma esperança
de ser diferente.
Ser é um prêmio,
mas perceber, um castigo.
Antecipar o desfecho
pode parecer razoável,
mas também
inútil.
Não resta à Inteligência
senão permanecer
inerte,
ou seja
burra.
Força a consciência
a farsa.
E resulta em uma farpa,
doída.
Saudade não constrói.
Toca.
Pedra tapa,
mas não garante
que escape
o desejo.
Talvez supere a vontade
o limite
e traga
esperança
para quem tenha
ousadia.
Nada garante,
mas vale a pena
plantar
a semente
no solo
que os pés
consagram,
ao marcar com a pegada
onde antes
havia
somente pó.
Evito,
mas também insisto
em chamar.
Não ouço,
prefiro
manter as portas abertas.
Confesso
que acho
que não creio,
mas acalento
algo
frágil,
como o movimento
repetido
perto
da minha
sombra.
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