Te inventei numa noite fria,
Por isso os negros cabelos
E o olhar distante.

Tuas ilusões,
Escavei em mim.
Na transparência dos meus sonhos.

De promessas em vão Inventei tuas verdades,
Mentiras e medos.

Minha doce e terna criança
Que esculpi em desigualdades,
No ócio da escura solidão
Urdi a trama de tua matéria :
Medo e desejo, sim e não.

Não me queiras julgar,
Transcendemos o bem e o mal,
O certo e o errado, a culpa e o perdão.

Não mereceria o teu veredicto, qualquer que fosse.
Apenas toma-me em teus braços,
Num branco e calmo vôo,
Despoja-me até da mais remota lembrança ....
Leva-me pra bem longe de mim,

E quando me tiver tornado
Tão vazio e cristalino quanto o olho de um louco,
Recria-me como quiseres.
Retomando o ciclo que iniciei;

Torna-me barro; modela-me,
Torna-me pedra; escava-me,
Retira do todo o que for resto,
E devolva-me à vida renovado.

Simples.
Exato.
Um só.