NINGUEM QUIS VER                               

Belo Horizonte, 22-01-1977
 
Lá vai o filho do empresário
No seu carro de luxo,
Com a habilitação comprada,
Disparado como um louco,
Os olhos inchados, vermelhos, intoxicados.
Atravessa no sinal vermelho
Pois a avenida lhe pertence.
Atropela uma criança e segue adiante.
No asfalto poluído, uma poça de sangue,
Sangue líquido e vermelho
De uma criança inocente de olhos serenos,
E lábios entreabertos, pois estava morto.
E a mãe enlouquecida
Grita para a rosa dos ventos,
Mas ninguém lhe ouve:
Nem os do norte, muito menos os do sul.
Imagine o leste e oeste?
Talvez a ouça o nordeste, talvez.
 
Ninguém viu nada,
Nem o numero da placa,
Nem a cor do carro,
E nem se era carro.
Se era branco ou azul,
Se era preto ou vermelho,
Ninguém viu nada.
O medo bloqueou os olhos do povo.
Eles viram e não enxergaram.
Eles nada viram.

GILBERTO NOGUEIRA DE OLIVEIRA
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