Eu desço escadas que levam ao fundo da águas,
nas minhas veias raivas mal descontadas afloram
pouco importa o fim do mundo ou do jogo
que é um ser sem desculpas e sem regras
e sem crimes atrás do muro?

Foi-se o tempo da bruxa se apresentar na vassoura,
morreram cachorros e dálias, quem há de chorar
por ídolos drogados se a mesa do jantar
é farta de maldades pré-datadas?
sirvam a serpente: é hora de conceber o desconhecido

Eu pouco ou nada ou nunca sei do quem ou do lá
mortos são lembrados apenas quando é perdido
o nome da rua ou o testamento calou, dane-se o sonho
se a chegada é na rua dos fantasmas,
prefiro a viagem clandestino em caminhão, a ouvir letras caídas

Nunca é o casaco de couro de gafanhoto que uso,
meu olhar é feito de doberman e gasolina batizada,
mesmo assim, deixo no criado mudo a última moeda
do meu vai e vem e o brilho da voz num desenho
esvoaçante que o afazer esquece sem dizer a quem

ERICO ALVIM
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