As duas faces do inverno

Um casarão com pintura desbotada
lá fora no jardim
gramas esbranquiçadas
sufocadas
pálidas

Folhas jogadas
sufocadas na neve
um ar gélido
arvores despenteadas
seminuas
ruas chuvosas
vento em furia
natureza em brancura

O céu cinza escuro
o vento em uivos e urros
e tudo perdendo a cor
telhados
paredes
vermelhos,verdes
árvores arbustos
tudo ...
nada além do branco
Ninguém na rua
a caminhar
pois não havia luar
a iluminar
e quando um cão
se atrevia a passear
de longe ouvia seu ladrar
parecendo lhe sufocar
em um mísero instante
dividiu os ecos com seus latidos
eco da neve
do vento
porém,apenas em um misero momento
e logo ele cessa de latir
a neve o amordaça

A chuva se apresenta
mansa porém intensa
e se paraliza
torna se estátua
quando toca a neve

Neve,chuva
e o vento urra
o q é isso??
bem,isso é inverno
e assim...
reina a noite em vestes brancas

Lá dentro,no aconchego da casa
uma borboleta bate asa
e pousa em flor amarela
girassol emoldurado
em um quadro pendurado
ao lado da janela

Diversos cÔmodos em trevas
apenas um em luz
iluminado por uma pobre chama
tímida
acanhada
quase já apagada

Uma figura humana
se aquece junto á chama
no vaivém das mãos esfregadas
anseia por matar o frio
e na outra parede
um peixe en grossa escama
se joga em correnteza
outro quadro pintando a natureza

A figura humana acende uma vela
na pobre chama amarela
da lareira já quase morta
e caminha pra outro cômodo
com o intimo incômodo
abre a porta

e portanto
outro cômodo ganha luz
e na parede se lê:
"escrivaninha"

Uma escrivaninha improvisada
em um quarto miudo

No quarto miudo
encontra se de tudo
pra escrever sobre o mundo
e seus absurdos
sobre a natureza
e suas riquezas
enfim naquele comodo bagunçado
havia um poeta refugiado
q escrevia sobre tudo

Uma cama
uma mesa
uma cadeira em remendos
e sobre a mesa
a sobremesa do escritor
um litro de licor
morango era o sabor

Havia ainda
papéis rabiscados
rasurados
versos estraçalhados
e o inverno assumindo o reinado

E ainda no quarto miudo
bem lá aos fundos
um despertador digital
sobre um criado-mudo
lá dentro ,um aconchego ,um zelo
lá fora um exagero em gelo
e assim a noite domina o trono
e o dia a aguarda em sono

Após horas e hora brancas
a noite se cansa
e se retira meiga e mansa

Eis q o dia desperta
e sua luz encoberta
a natureza com bonança

O jardim que era sufocado
pela neve dominante
agora meio acanhado
ganha os raios dourados
do sol radioso e brilhante
e assim reina agora o dia
sua jornada se inicia
a neve desesperada
se dissipa,se derrete
e o jardim em cores
folhas ,caules,flores
arvores frutiferas
renascem em brados
em sabores
tudo isso...
no seio do inverno

O cão que ladrava ruìdos
que só aguardava a morte
agora corre aos latidos
em passos firmes e fortes

A brisa morna cavalga
no ar manso da manhã
e a natureza
com beleza
com grandeza
com delicadeza
domina o inicio do dia

E o dia domina o trono dos céus
jubiloso de alegria
e a noite dormindo
o sono q o di dormia
e ainda é inverno.

A figura humana
que se aquecia junto a chama
e se refugiava no quarto bagunçado
surge trajando pijama
e debruça se na veneziana
observando o jardim iluminado

Seu pijama listrado em cores
nos pés chinelos de dedos
face pálida
lábios cálidos
observando o jardim colorido
sortido
e seu pijama colorido
a todo momento
se ondula
com o tocar do vento
e ainda é inverno

Então a pobre figura
relembra da nevasca dura
da noite anterior
onde o vento rajava
e a neve pairava
causando lhe tremor

Volta casa adentro
com a mente em pensamentos
chega a escrivaninha
um papel,contendo trinta linhas
e um lápis q lá havia
e volta pra janela
olhar a natureza tão bela

Papel e lápis enpunhados
nas mãos trementes
os olhos ainda meio fechados
dormentes
e no interior de seu ser
enorme vontade de escrever
um único verso

E assim...
recordando a noite de antes
observando o dia radiante
tão doce
como jamais pensou q fosse
ou que teria sido
ao som dos pássaros canoros
do ladrar do cão
no brotar das cores
no despertar dos sabores
no susurro da brisa
não se conteve e pôs se em pranto
observando o encanto
daquele recanto
e habitada por enorme emoção
escreveu em letras tortas
devido ao tremor das mãos
antes q a memória passasse
um único verso inundou lhe a face
de risos
de prantos
de felicidade

e assim...
na linha primeira
e já derradeira
um unico verso
uma unica frase

"O inverno tem duas faces".
 

ney martins
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