SAUDADE CABOCLA
 
 
A! Que saudade danada, que maltrata este pobre coração,
Que vive aqui na cidade, mas não esquece o sertão.
Aqui é tão diferente, um amontoado de gente, indo pra lá e pra cá. Parece que estão todos loucos,
Não respeita este caboclo que acaba de chegar.
Vindo lá da roça pra aqui na cidade mora.
Bate o desespero.
Aqui não tem um terreiro, nem um banquinho pra senta.
Meus olhos lacrimejam quase querendo chora.
Que saudade danada mate este camarada que não para de pensar. Nas coisas lá do sertão, dispara meu coração.
Que vontade de voltar.
Sei que lá no meu antigo cantinho, já não existe meu ranchinho! Ai que saudade que dá.
Abro a porteira dos meus olhos, logo começo a chorar. Arrependido de ter vindo aqui na cidade morar.
Sei que lá esta tudo diferente,
Não tem a mesma gente, mudara todos de lá.
Não tem o mesmo silencio nem os passarinhos a cantar.
Nem da fonte a água correndo livre, nem o cheiro da brisa no ar. Os galos batendo asas alegre a cantar.
As galinhas cacarejando, indo pro ninho bota.
Os porquinhos no chiqueiro roncando e a fuça.
As vacas mugindo no terreiro, a rumina.
Os cachorros latindo bravo, pra bicharada espanta.
Hoje é  tudo diferente, não gosto de imagina.
Lá não existia tristeza só alegria havia lá.
Não tinha muita diversão, não havia televisão.
Somente um radinho a toca.
E o caboclo do sertão apaixonado a canta.
Abria o peito soltava a garganta igualzinho o majestoso sabiá. Todos os dias eram de luta, ninguém fugia da labuta.
Gostava de trabalhar.
O serviço era duro, fazia a gente sua.
À noite depois do banho, era servido outro jantar.
Iam todos pra varanda, e começava a prosia.
Contava causos anedotas era muito engraçado.
Todos eram amigos, parentes e até compadre.
Hoje relembro com tristeza, ai que saudade que dá.
Poder pisar no chão, pelas matas andar,
Ver as flores do campo toda  manhã desabrocha.
Ver o sereno na grama e descalço pisar,
Beber  da água fresca da mina a brotar.
Sentir o calor do dia à noite o frescor do ar.
Contemplar a beleza da lua e as estrelas conta.
Relembro e tenho saudade ai que tristeza que da.
Vezes meus olhos lacrimejam, outras começo a chorar.
Esta saudade danada acaba por me matar.
Mesmo não gostando da cidade, não adianta mais voltar.
Sei que lá esta tudo diferente, ai que saudade que da!...                  

VALDIR A. SILVA
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