Luar de Outono

Flutua Lua d'outono
Pelo céu frio estrelado,
Momento doado,
Completude e natura,
Repetindo o ato
Do reviver o doce encontro,
Todo enamorado é um louco.
Fêmea presa atada ao jogo,
Magia e quebranto,
Faz de conta não entender doce mistério,
Sutil instante
Todo movimento,
Amor carente,
Altar das emoções que afloram o tempo.
Soam cantos,
Da musa platina que Asherah* ilumina
Em paixão e sonhos,
Sensações singelas,
Dor dormente
Que o coração humano não sente.
A todos,
Enfeitiçando com lábios de entrega
Soterra sofrimentos,
Luz e oferenda,
Banhando o prazer
De estar abaixo dela.

*Deusa Asherah -

Para a maioria das pessoas que lêem a Bíblia, a idéia de um único Deus de Israel, Yahweh, parece ser clara. No entanto, descobertas arqueológicas das últimas décadas vem demonstrando que Yahweh nem sempre esteve solitário. Antes da ascensão do monoteísmo em Israel, o Deus Yahweh fazia parte de um contexto politeísta onde havia um panteão de Deuses e Deusas, sendo que provavelmente foi adorado ao lado de sua consorte, Asherah. A supressão do culto e da imagem da Deusa Asherah traz consigo conseqüências profundas para as relações entre os gêneros, afetando em especial aos corpos das mulheres, que tinham na Deusa uma possibilidade de representação do feminino no sagrado. A religião judaica vai se constituindo em torno de um único Deus masculino, legitimando historicamente uma sociedade patriarcal. Este poder divino imaginado somente como Deus afetou as mulheres, as crianças, a natureza, pois quase sempre partiu de um pressuposto de dominação, opressão e hierarquização das relações, tanto humanas como ecológicas.

Afirmar Asherah como Deusa é polêmico, mas necessário à religião e à pesquisa bíblica. Dar voz a uma época em que Deuses e Deusas eram adorados, em que o próprio Yahweh foi adorado ao lado de Asherah, nos impulsiona a re-pensar não só as relações pré-estabelecidas entre homens e mulheres, bem como, a própria representação do sagrado estabelecida.

Re-imaginar o sagrado como Deusa é re-imaginar as relações de poder, não numa tentativa de apagar a presença de Deus e sim de dar espaço ao feminino no sagrado, novamente o feminino não como um atributo do Deus masculino, mas como Deusa.

Esta talvez seja uma grande contribuição da reflexão feminista, que nos desloca e nos provoca a re-imaginar o sagrado, como possibilidade de re-imaginar a sociedade e as estruturas cristalizadas secularmente.