Na fagulha, um sentimento
Dissolvido em luz reside:
A tesoura do esquecimento...

Ela afia-se pro corte
Do fio que une a vida à morte:
- Nosso velho amigo, o tempo.

Despedaça os momentos
De romances declarados:
Nos beijos que não têm tempo,
Dos casais apaixonados...

Subjuga os argumentos
Encravados pela história,
Deixa o sentido calado,
Esquecido co'a memória...

Pra que não haja medo:
De outro dia começar,
De outros beijos procurar
Pois morrer ainda é cedo!
(E lembrar traria medo.)

Mas mesmo que o fio se corte
Pois parece muito fino,
O amor motocontínuo
Une os tempos e é mais forte!

(E ando nele, meu transporte,
Rumo ao novo desatino...)