Quero um poema que diga tudo
Que tento falar e não consigo,
Um poema que pergunte a todo mundo:
Quer ser meu amigo?

Quero um poema que nunca desista,
Que quebre um coração de aço.
Poema que insista, ao qual ninguém resista:
Que valha um abraço.

Que fale em qualquer língua do que sinto:
Poema que exponha meu vazio...
Que proclame alto tudo o que eu omito
Com meu sangue frio.

Quero um poema curto, completo,
Um eco eterno na alma de quem lê.
Que provoque amor, carinho, afeto,
Vontade de viver!

Um que derrube tudo e reconstrua:
Quero bagunça! Caos! Revolução!
Que exponha sem pudor a sociedade nua
E sua podridão.

Serve um poema simples, um poema mudo;
Desde que ponha a todos de cabelo em pé,
Desde que vire a mesa, e mude o mundo.
Um poema qualquer...

Quero só o vazio, a folha em branco,
Um não-poema: é nele que eu penso!
O poeta burro, vesgo, calvo, manco;
E o silêncio.