DAS ESTULTICES -My Way

DAS ESTULTICES -My Way

Há pergunta, sempre, é sobre desejo de amar, e viver.
Sobressalto, despudorado, solidão da vida, precipício que vem lá do norte.
São fiordes da Finlândia, em que assistimos, esperando um não sei quê.
procuro, e não acho.
choro, e nada resta.
Não tenho medo e minha decisão tomada.
morte é pequeno espaço na vida.
Nada mais resta, senão morte.
descanso eterno.
remanso de não mais pensar.
Não encontrei pessoa amada.
sacrifício é pequeno.
Deus, lá do alto, orienta-me.
Salva-me, último minuto.
dor de amar e de não ser amado, não vale a pena.
escuridão ainda é mistério.
O mal, está a nossa porta, está em nós, e não reconhecemos.
beleza prescruta o céu, e pede para sair.
sol não está; e nem o céu.
ondas são lindas, da praia.
Mas também são, as ondas, o último suspiro de quem tenta viver.
Imagino mil maneira de amar.
de morrer.
Tudo foi como se fosse o mar, diria: mareando.
passo, e mais outro, nada mais resta.
Estou livre e a liberdade tem gosto, paladar.
Quem és tu, linda, perante a natureza das coisas e do que vale a pena?
Morrerei sem saber todas as respostas.
pena.
Será o último ciclo da vida?
Desejo de incautos e desprezíveis.
Voltarei coxo,
cego,
estirado numa cama?
Pobre, mendigo, catador de lixo,
estuprado pela vida e deixado só, na escuridão da noite?
Quem será meu anjo, as duas da manhã, na estrada do Norte?
O ouro, ainda será a pureza estripada do mundo?
tecnologia ainda será a ciência enlouquecida?
Belo é teu corpo e teus cabelos.
Tua roupa equilibra teus saltos altos.
esferas que compõem teu corpo já não trazem tantos sonhos assim.
Mais do que isso, trazem a realidade atroz da mendicância e da verdade.
Tuas carnes e teus ossos descarnados, suplicando amor, tecem compaixões e
última despedida.
Deus está ali, aqui, acolá?
Pobre pretenso ser que navega o mundo.
Minha terra não é tua terra.
meu mundo está noutro lugar, que não a terra.
Já aprendi tudo sobre o sofrimento.
Sei que quanto maior o orgulho, mais a pobreza aproxima.
Não sou diferente de ninguém.
Não me faço vítima das coisas ou dos acontecimentos.
Sou o que sou, tal Cagliostro, em seus melhores dias.
Não faço a poesia que serve.
Não quero a poesia óbvia.
Não quero o verso fácil.
Não iludo mulher alguma.
E os meus escritos são tão importantes como qualquer dia que amanhece.
Nada mais me resta.
Despeço-me do mundo.
Vou embora.
Enjoei.
Não tenho o direito de negar o mundo?
Tenho sim.
Viro as costas para o mundo.
Mas ainda estou no mundo.
Embora de costas.
Então, tal raciocínio é jocoso, no seu final.
Minha poesia não é para agradar intelectuais.
Não é para agradar ninguém.
Escrevo para mim mesmo.
Eu sou suficiente para mim mesmo.
Como qualquer um.
Vou fazer meu último discurso e será sobre a culpa.
Não tenho culpa nenhuma, seria assim o começo.
Não tenho culpa se você é pobre, miserável, chato, bronco, idiota.
Não tenho culpa de nada.
Então, por favor, leve sua mixórdia para longe de mim.
Não tenho culpa.
Nada mais presta.
Nada, nada.
Quer um conselho?
Não vou dar.
Olhe para seus pais.
O que eles se tornaram?
Pense nisso.
Não vou falar dos políticos. Nem vale a pena perder tempo.
Menina, tua dança luxuriante, nesse instante, sugere que o mundo pode ser mais adiante.
Mas, nada disso importa, pois a ilusão é pura.
Livrei-me de teus braços, polvo, e teu abraço de morte já não chega mais.
A teia da aranha negra vicejou mas não vingou, no último instante.
Rosicler saiu hoje para ver a morte.
Marco Antônio chorou todas as lágrimas que tinha e que não tinha.
A velha morreu sozinha estirada no chão nauseabundo.
Ricciela estropiou-se na chaleira e morreu de morte horripilante.
Eu procuro a substância das coisas.
Não interessa se Espinoza era rei ou ou plebeu.
Se conheceu os segredos secretos da Cabala até a redundância imensa.
Ele conheceu, e daí?
Nada disso importa.
Bem, mas não vou tão longe.
Nem tudo é um amontoado de desprezos.
Nem vou fazer terra arrasada.
Alguma coisa importa e sou só eu mesmo.
Eu, Deus, eu.
Nada mais.
Talvez, também, algum rebento de amor, filha pródiga,
Despatriada filha, rejeitada pelo mundo, filha madeixa,
Desmoralizado pai, filha que o mundo não amou.
Filha desnaturante para o mundo.
Nada mais louco que a vida.
Escuto os passos lancinantes, da morte.
Ajoelho-me, e minha auto-piedade é auto-colante.
Nojenta e disforme, minha alma persiste.
Será o grotesco mais importante?
Ou a beleza multicolorida da noite norte?
Sonho com o Himalaia.
Na perdidura das neves perenes.
Meu Xangri-lá é aqui.
Eu meu bem-te-vi, morreu de tanto contemplar a janela da catedral.
Filha bastarda, minh'alma, socorreu-se enfim, na noite.
E seu sorriso foi bem desdentado.
Mendigando o nada obliterado e obsequiado pelo momento inóspito.
As chagas do mundo estão ainda na cruz?
A nossa compaixão é fingida, decrépita, ilusória.
Nossa vida cheira a uma mesmice solidária.
E os discurso são vazios, e não dizem nada.
Proponho a aliançar o silêncio.
Escolas do silêncio.
O quietismo.
As fezes.
O trono fundamental.
Os gases.
Os intestinos da beleza tradicional.
Tua boca só diz besteira.
Quando será que você vai parar?
O vazio assombra e tudo vai piorar.
No entanto, preciso de um quarto, uma cama, um lugar.
Para morrer, em paz.
Deixe-me morrer, em paz.
Morrer é bom, é normal.
Já vivi o bastante e já vi um pouco mais.
Chega de tanta mediocridade.
O mundo, para os idiotas.
Destruam-se, canibal é o homem.
Chega de ideologias servidas como prato frio.
Chega de armas nas mãos de estrupícios.
Matem todos, viva a morte.
E, mesmo assim, não adiantará nada vezes nada.
Eu necessito de teu amor.
I need your love.
Elvis.
O último show no Fragata.
A hora do Elvis chegou.
O último vinil foi colocado no toca-discos.
Quem será que vem agora?
Billy Holliday?
Bob Solo?
Quem interpretará minha tristeza?
Que será meu norte?
Caminho, caminho, e não vou parar.
Um espetáculo me espera, no horizonte.
Já vejo o sopé da montanha.
Estou feliz.
Respiro ar fresco.
E, do outro lado, sei que Deus me espera, a contento,
e sei que ele é meu norte.









 

digressão.

Bag

Claudio Antunes Boucinha
© Todos os direitos reservados