AS RUAS ESTÃO VERDES

AS RUAS ESTÃO VERDES
ontem ainda eu corria e saltava nas calçadas
há tão pouco tempo
lia o livro do curso primário
lia todas as lições de vez
sentia prazer em inaugurar cadernos
há poucos dias fazia a prova do exame de admissão
achava lindos os meninos do colégio
um dia meu pai ficou uma fera
encontrou o marquês de Sade na minha cama
estão bem acesos os salões de baile
vejo a saia godê rodando
girando até tornar-se minissaia
queimam ainda em minhas mãos
em meus lábios
beijos impetuosos
voa com o vento o perfume em voga
um braço apertando a cintura
sob os pés o calor do chão das ruas e das praças
foi um dia desses a festa da formatura
as primeiras aulas
os primeiros alunos
há poucos instantes carne e ossos ardiam em desejo
e angústias existencialistas
as ruas estão verdes
trotam cavalos
galopam gritos nas prisões
sutiãs queimam solidão
os jornais estão mudos
gritam os generais com suas vozes de canhão
e aqueles, quem são?
espíritos?
fantasmas da opressão

Poema inspirado no contexto dos anos 50, 60 e70, períodos da minha infância e adolescência, marcados por muitos acontecimentos inesquecíveis.

Escrevi este poema em minha casa, na cidade de Aracaju

Tânia Maria da C. Meneses Silva
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