Lamento de um Sertanejo

Que saudade do canto dos pássaros
Nem me lembro mais do canto do sabiá
Araponga, que me trás lembranças
Das matas que havia aqui e acolá

Do relinchar dos cavalos no campo
Da cotovia a assoviá
Do coaxar dos sapos na lagoa
Aí que saudade me dá!

Do barulho das águas nos rios
Do vento a me cortar
Do uivar do lobo do mato
Porquê tudo foi se acabar ?

O que fizeram com a onça pintada
Onde está o lobo guará
Que corria estas verdes planícies
Meu Deus! A vontade é chorar!

Que saudade da minha choupana
Nestas serras que agora vejo
Quem me dera ter tudo de novo
E matar este imenso desejo

Das cavalgadas nestas densas matas
Que outrora fora o meu lar
Há, como é triste esta história!
O progresso chegou pra ficar

Acabaram com meu lar primitivo
Destruíram o meu habitat
E agora sozinho que faço da vida ?
Sem isto não posso ficar

Os meus bichos eram meus parceiros
Eu vivia em bela união
Porquê acabou tão ligeiro
Ainda sou um jovem peão

Acabaram se as vaquejadas
As festas nos arraiais
É duro olhar tudo isto
É concreto demais

Homem que animal traiçoeiro
Não respeita onde está
Acabando a vida no planeta
Vou me embora deste lugar

Para mim só restou a tristeza
Pois não tenho alegria aqui
Cadê meus animais, e a natureza ?
Roubaram tudo de mim...

Com minha velha viola eu cantava
As canções feitas neste lugar
Hoje ouço o rugir dos motores
Até as vozes trocou de lugar

Como posso entender tudo isto
Aonde o eles querem chegar
Acabando com minha alegria
Nem quiseram me consultar

Eu o mais belo que tinha
Eu perdi a alegria da vida
Mas jamais me sairá da lembrança
Das coisas aqui já vivida

Um dia tudo isto acaba
Disto eu tenho certeza
O homem se destruirá
A revolta da natureza

Vai te cobrar muito caro
Pois respeito nenhum te passou
Que o homem precisa da terra
Da forma com Deus a deixou

Choro porque sei o valor
Aqui foi onde eu nasci
Tu que nada criou
Acabaste, tu és um infeliz...

Morri quando acabaram com minha floresta nesta terrinha...

Salvador, 04 de dezembro de 2002;
às 07:05 horas
Felício Pantoja Campos da Silva Junior

"Preservar a natureza com todos os seus altos e baixos ainda é um privilégio dos inteligentes"

Salvador - Bahia

Felício Pantoja Campos da Silva Junior
© Todos os direitos reservados