Você vai na corrida maluca, ansiando meu corpo e beijando outras bocas, outras nucas, e nunca na vida alcançando a plenitude da satisfação: é sempre pouca, sempre ilusão (como ilude!), sempre louca utopia, enfim, quase sim e sempre não. Procura sintonia na loucura de uma fantasia rude, uma falsa paixão, e abraça quem passa, no impulso, na ânsia, na esperança de que lhe faça sossegar o coração (ou ao menos cegar-lhe a visão); mas não tem graça, é tudo em vão, tudo falácia e alucinação. E são sempre a escuridão, a lua e a solidão que trazem a verdade nua e crua: não é fácil procurar meu abraço em outros braços, outra face, outro alguém - é fracasso também!, e desfaz-se o desejo na amarga decepção que é o que resta do outro beijo, da outra festa, de outra inconseqüência, e outra manhã de consciência entrando pela fresta da janela pra desmascarar o afã, a carência, as bobagens e a dor de quem se perdeu entre imagens borradas de um amor que nunca se calou, que brada em voz alta o tanto que sente minha falta, o quanto não superou o encanto que não finda, que não esqueceu... Invente e tente o quanto puder; mas é evidente, mulher: o que você quer ainda sou eu.

(Solidariedade a um bom amigo "desprezado"...)