BONS TEMPOS
Paulo Gondim
20/11/2006

Foi num domingo chuvoso
Dia frio e entediado
Que você me “encarou”
E num gesto confirmado
Que me deixou assustado
De tal forma me esnobou
Como não tive saída
Juntei o pouco que pude
Arrumei numa sacola
Cuidei de “dar logo o fora”
Antes que arruinasse tudo

Tinha pouco a transportar
Uma escova de dente
Um litro de aguardente
Que insistia em guardar
Parece por precaução
Quem sabe, premonição
Que eu iria precisar

E bebi tudo o que pude
Dizem que tomei um “porre”
E pra ressaca curtir
Não me esqueci de ouvir
Aqueles meus discos “bregas”
Fui à fossa sem desvelo
Quanta dor-de-cotovelo
Eu passei pensando em ti

Mas, como não tinha jeito
Antes de mudar o plano
De sair desse lugar
Eu conferi na sacola
O que havia por lá
Tinha um disco de Caetano
Uma canção de Cartola
Com o fado “tanto mar”
A foto do “CHE GUEVARA”
Uma estrela do “PT”
Que me orgulho de ostentar
Um velho calção de praia
Um boné de guerrilheiro
Que ganhei de um companheiro
Na guerrilha do Araguaia

Foi tudo o que consegui
Nesse tal capitalismo
Que só se vale o que tem
E o que se pode juntar
E no meu idealismo
Fiquei só, sem tem ninguém
Por isso vivo a vagar
Se a saudade me atormenta
Volto aos bons “anos oitenta”
E me ponho a recordar!

Paulo Gondim
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