Sentido Aranha

Quando o menino se descobre herói, toda a fantasia se reconstrói e se recobre de poesia e acrobacia; e se não alivia tudo o que dói, se alimenta do que a corrói pra fazer nascer lenta e silenciosamente uma figura estranha: pura e simplesmente um Homem-Aranha! Lança sua teia pelos ares, e dos lugares que ela alcança ele não titubeia e se balança sem medo, e avança fiando seu brinquedo-arma com calma e precisão, honrando sua missão de fazer justiça com as próprias mãos.
Mas se a premissa da boa intenção esconde a vingança, a vida ensina à criança o heroísmo do perdão e da esperança. Se o egoísmo mostra sua face, o Aranha renasce em abnegação tamanha que até o vilão desfaz-se em altruísmo e amizade e sacrifício.
Mas depois, pendurado nos edifícios, chorando a perda do amigo, o herói entende que leva consigo a semente do perigo e da intempérie (pois há sempre vilões, e sempre a doce Mary, e sempre corações ameaçados por quem os fere).
Mas com essas lições que a vida tece o herói-menino não esmorece: se recompõe e segue seu destino vencedor, sua natureza, seu amor, seu coração, captando no sentido aranha uma certeza estranha:
Sempre existirão falanges de seres mutantes e entidades... e com grandes poderes, grandes responsabilidades...