Restos de Carnaval

Sobrou o confete guardado no armário, para o próximo carnaval.
Ficou a alegria do carnavalesco, agitando os corpos, famintos, de amor e de alimento.
O ciúme do namorado da passista, e o esforço do casal porta-estandarte ficaram.
A sandália velha, de guerra, ressuscitou. Também aquela garrafa plástica, com nome em inglês, serviu.
O embalo do samba, o passo mais precioso, o corpo desafiando o espaço, a mulher, lembrança.
Ficou tuas pernas lindas, tua fantasia vermelha, tuas plumas, teu jeito e tua graciosidade.
Ficaram todos os transversais e seus temas, e todos os desrespeitos.
As correrias, a polícia, seus automóveis velocistas.
E um rapaz, dominado, com seus braços enviesados, e seu rosto prostrado no chão do camburão. Uma sirene.
Aquela corda poderá separar meu espaço, da escola que passa?
Piso na corda e digo, sou mais importante que essa corda.
O prefeito se ilumina, sou um estranho nesse mundo de artistas. Ou será que não?
Rei Momo, de longe, lembra suas origens rebeldes, e está mais preocupado com suas colegas sambistas.
Qual meu enredo? Qual será meu último? Qual será o último dia de minha vida?
Pergunto-me: Morrerei numa cama, qualquer, antro de prostitutas, reclamando Adelaide de minha vida, como fazia o tribuno da nação repentina e sua voz vociferante, falando dez idiomas, incompreensíveis, embora entre judeus entusiasmados?
Ou minha morte será atroz, num banco de praça, pela gratuidade da noite de carnaval?
Serei eu, serei tu? Pergunto-me.
Haverá tempo de te amar?
Respondo: Meu tema é o mesmo de Pigmalião, e você, uma estátua que não quer falar.

Um Ode ao meu amor, platônico, que espero que sempre fique, dessa forma.

Bagé, 28 de fevereiro de 2007