Ela, a despedaçar-se, no palco, incontinente,
Razão de si mesma e algo mais.
Ensaiando passos de balé e teatro,
Em gestos que remontam ao nascimento do primeiro sol,
Cantava o canto de Elis Regina, Érika Rodrigues, Edith Piaf,
Maysa, Dalva de Oliveira.
 
Mas, não era, exatamente, um palco: era chão gelado de um bar de esquina.
E, a platéia, colecionava os vazios de cada dia,
Traduzindo as canções como bem queria, afinal, o que é a música?
Misturando desejos e egoísmos, em cada amanhecer e em cada pôr-do-sol.
Mercadejando sentimentos, entre olhares toques e condescendências.
Distribuindo delicadezas de Frankenstein.
 
Cantava nas ruas, Edith Piaf, Edson Cordeiro.
Eram tantas camas, brancas, alvas, de um orfanato.
E uma só Érika Rodrigues.
São Paulo ganhou Elis Regina e nem sabe.
 
O que se pode fazer, pela arte, pela vida?
Do que um artista pode viver só, além da sobrevivência?
 
A algo de estranho, no universo, que nos faz viver, o bom combate.
Nem só de flor-de-lis, fundam-se os mistérios.
José Perches Enríquez, no seu secreto eterno, The Eternal Secret,
Escreveu Maria Bethânia, bem antes.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Sobre o sentido de cantar.

Bagé, 17de janeiro de 2007.