Revolta,
não solta a boca um grito,
prende, amarra
na lama fervida dos pântanos
por onde deitam os jacarés.
Coração pura sujismundice,
antes visse a cor, mas não vê.
Jamais crê sem os olhos
no dito oco e muito dito
daquele livro de ler,
porque os livros caducam
e a loucura da letra
é a doença da idéia.
Vacina não há para isso.

Revolta,
é tanto musgo e lodo no cenho,
nessas rugas todas avivadas.
Umidade, infiltrações,
as emoções estão todas mofadas.
No assoalho, um coalho
de bolor povoa a madeira.
Reclina-se à poltrona o pó,
dorme só, sonha céu nublado.
Vazando da pia, água turva
se esgueira, me espia a sede
que não pode lograr fim.
Remédio não há para isso.

Revolta
vai de correnteza no rosto,
sente-se o gosto de sal,
um funeral se guarda nos lábios,
na pouca palavra afogada
e morta na limpidez do choro.
Que o dolo de ferir se esqueça!
Aconteceu antes, aconteça depois
uma chance de reparação.
Joelho contra o chão,
não faz perdão de pronto
e para florir é preciso esperar.
Jeito não há para isso.

Momento de esculpir imagens pouco nobres, de erguer monumento para o auto-consolo.

São Paulo