Olho torto e a carraspana

Há de ter o olho torto
para bem olhar a vida.
Um bem vivo e outro morto
para disfarçar a ferida.

Olho cego casou,
esposando a felicidade,
de tão feliz enxergou,
enviuvando em tenra idade.

Olho são é doutor,
sabe tudo do mundo
mas não sabe do amor,
tal dor de vale profundo.

Olho torto faz biscate
conserta fogão, faca, alicate.
De noite que fogo, carraspana!
A mulher esfria, o marido ronca semana.

Olho torto dormia.
Acordou olho são.
Olho cego queria,
requentar aquele pão.

Olho torto saia.
Olho são chegava.
Olho cego escondia.
até cegueira passava.

Olho torto chegava
Escondia olho são.
Olho cego saia
firulando de alegria.

Olho torto, de fogo,
era carta fora do jogo.
Carraspana todo dia?
A mulher vivia, o marido morre semana.

São Paulo