O reflexo da lua na água turva
Aos olhos do poeta obscurece,
Pois quando à água suja a lua desce
Perante a lua nova ele se curva.

Perante a lua, novo, ele pranteia
E sabe que ele mesmo é quem ofusca
O brilho do ornamento que ele busca,
E a luz do pensamento em lua cheia.

Coberta pelo breu a lua míngua,
E assim sucumbe o brilho do poeta:
A sombra de si mesmo ele projeta
Na lua, antes que ela se extinga.

Só dentro do poeta ela é crescente:
Seu brilho à água turva sobrepuja,
Fazendo com que seja apenas suja
Nos olhos do poeta reticente...

Do reflexo da lua se apropria,
E o eclipse total o desconcerta...
É turva a água ou o olho do poeta?
É escura a lua ou sua vã filosofia?